Em busca de recursos para aliviar o caixa, o governo e grandes estatais preparam o maior processo de privatizações federais desde o leilão do Sistema Telebras, há quase duas décadas.
Se tudo correr como o planejado, Petrobras, Eletrobras e a União vão arrecadar neste ano mais de US$ 18 bilhões com a venda de ativos e participações em empresas – o segundo maior valor anual desde a criação do Programa Nacional de Desestatização (PND), em 1991, abaixo apenas dos US$ 24 bilhões de 1998.
Ao que parece, o rombo das contas públicas e as dificuldades financeiras das estatais passaram a pesar mais que a ideologia petista, contrária às privatizações. Mas não será fácil conseguir esse dinheiro todo.
O Planalto terá de vencer a resistência do próprio PT, de aliados e de sindicatos. Deve enfrentar questionamentos na Justiça e no Tribunal de Contas da União (TCU). E vai lidar com um cenário econômico dos mais adversos, que tende a rebaixar preços de venda ou inviabilizar operações inteiras.
A própria falta de hábito pode dificultar o processo. Segundo dados do BNDES, de 2003 a 2014 os governos de Lula e Dilma Rousseff levantaram US$ 400 milhões com a venda de estatais. Pouco, perto dos quase US$ 12 bilhões de Fernando Collor e Itamar Franco e dos US$ 49 bilhões de Fernando Henrique Cardoso.
“O momento não é o mais propício para vender empresas e ativos, mas pode-se contornar isso com plano bem estruturado”, diz José Roberto Afonso, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV/Ibre). “O problema é que o governo não tem uma estratégia clara, até por ter uma dificuldade ideológica com a palavra privatização.”
A maior parte das vendas planejadas para 2016 faz parte do que a Petrobras chama de “programa de desinvestimentos”. A empresa pretende levantar US$ 14,4 bilhões para chegar a julho de 2017 sem precisar captar dinheiro no mercado ou receber aportes do Tesouro.
A condução do programa é alvo de críticas. Em janeiro, a Justiça suspendeu a venda de 49% da subsidiária Gaspetro para a japonesa Mitsui sob os argumentos de que faltou transparência na definição do valor da transação (R$ 1,9 bilhão) e de que não ficou claro se houve concorrência.
“A Petrobras está sendo açodada. Pode ser questionada judicialmente e com certeza será pelo TCU, que vai avaliar se a operação foi eficiente do ponto de vista econômico”, prevê Egon Bockmann Moreira, professor de Direito Administrativo da Universidade Federal do Paraná. “A própria sinalização da empresa, de que quer levantar determinado valor a qualquer custo, já motiva o mercado a oferecer menos.”
A Eletrobras quer privatizar a distribuidora Celg-D, de Goiás, avaliada em R$ 2,8 bilhões, na qual detém pouco mais de 50% do capital. Em paralelo, receberá R$ 7 bilhões do Tesouro para sanear outras seis distribuidoras que tentará passar adiante no futuro.
O dinheiro obtido por Petrobras e Eletrobras tende a ficar no caixa das empresas. As duas operações que podem gerar receitas imediatas para a União são as aberturas de capital da Caixa Seguridade e do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB). Numa projeção otimista, o governo pode levar cerca de R$ 5 bilhões, considerando sua fatia nas duas companhias. Mas o mau momento do mercado financeiro, que impediu esses dois negócios em 2015, tende a limitar os ganhos.
Contas públicas
As privatizações planejadas para este ano podem aliviar, mas não resolvem a situação das contas públicas. Mesmo que os negócios sejam bem-sucedidos, poucos acreditam que o governo cumprirá a meta de superávit primário de R$ 30,5 bilhões (0,5% do PIB). Em 2015, o setor público teve déficit primário de R$ 111,2 bilhões (1,88% do PIB).
“Desinvestimento” da Petrobras afeta unidades no Paraná
Os “desinvestimentos” da Petrobras tendem a afetar suas unidades no Paraná. Embora não haja uma lista oficial, informações vazadas à imprensa dão conta de que a empresa vai se desfazer de gasodutos, termelétricas, da área de fertilizantes e de fatias em subsidiárias como a Transpetro e a BR Distribuidora e também na petroquímica Braskem.
A maior fábrica de fertilizantes da Petrobras é a Fafen-PR, que fica ao lado da refinaria Repar, em Araucária. Inaugurada em 1982, ela foi privatizada em 1993 e novamente adquirida pela Petrobras em 2013, por US$ 234 milhões. Na ocasião, a estatal prometeu investir US$ 144 milhões na unidade até 2017.
A Petrobras também detém 20% da termelétrica UEG Araucária, controlada pela Copel. Além disso, a venda de 49% da Gaspetro, se concretizada, vai mexer na composição acionária da Compagas, empresa controlada pela Copel que distribui gás natural canalizado no Paraná. A participação direta e indireta da Mitsui, hoje com 24,5% da Compagas, subirá a 36,5%.
Sindicatos de petroleiros prometem se mobilizar contra a venda de ativos e empresas da Petrobras. “Somos contrários a essa visão imediatista, financista. Fazer uma oferta tão grande de ativos num momento como esse é querer vendê-los a preço de banana”, diz Mário Dal Zot, presidente do Sindipetro PR/SC.
Procurada, a Petrobras não se manifestou para esta reportagem.
Se a Petrobras, a Eletrobras e o governo venderem tudo o que planejam, as privatizações deste ano podem ser as maiores desde 1998, quando o governo vendeu o Sistema Telebras.
O Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Urbanas no Estado de Goiás (STIUEG) teve seu início no ano de 1949, com a criação da Associação dos Funcionários da CELG. O segundo passo importante dessa história foi dado com a extensão de base para a Associação dos Trabalhadores nas Indústrias Urbanas no Estado de Goiás...
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