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Energia a partir do lixo eleva potencial elétrico, mas não descarta hidreléticas

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09/09/2014

O morador de Guatapará (SP) Augustinho Yoshinaga não sabia, mas o lixo que ele e a família produzem dentro de casa ajuda, desde maio deste ano, na geração de energia elétrica distribuída a partir do aterro sanitário da cidade. “Pra mim isso é novidade, e é excelente poder conseguir fazer energia principalmente a partir do lixo, que não tem serventia nenhuma e só polui o ambiente”, afirmou o administrador de 36 anos. Esse tipo de geração de energia pode ajudar a aumentar o potencial elétrico no Brasil, segundo especialistas em bioenergia consultados pelo G1. Entretanto, a eficácia é pequena e não deve reduzir a dependências das hidrelétricas. 

O anúncio sobre a primeira usina do interior de São Paulo a gerar energia a partir do lixo foi feito no mês passado. O aterro de Guatapará, na região de Ribeirão Preto (SP), gera força elétrica com a matéria orgânica recolhida de 20 cidades. A planta tem capacidade para gerar 4,2 megawatts de energia, suficiente para abastecer uma cidade com 18 mil habitantes. A energia gerada no aterro já passou a abastecer a subestação de Pradópolis (SP), a 15 quilômetros de Guatapará, e de lá é distribuída para o restante do Brasil.

A energia gerada pela usina de biogás do aterro sanitário de Guatapará é obtida a partir do gás metano liberado pelo lixo orgânico em decomposição. (Veja no infográfico abaixo)

A matéria-prima é distribuída por mangueiras instaladas em todo o Centro de Gerenciamento de Resíduos (CGR) e levada para dutos de captação do gás, onde passa por processo de limpeza, resfriamento e queima em motogeradores. Depois disso, a energia é gerada para a distribuidora.

Eficácia
De acordo com o pesquisador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel) Guilherme Dantas, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a geração de energia a partir do lixo não vai resolver o problema no setor elétrico brasileiro. “Aproveitar o recurso de resíduos sólidos urbanos é uma coisa bem pertinente e faz parte da solução, mas não podemos deixar de manter em mente que é uma coisa marginal”, disse.

Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), apenas 0,73% da energia distribuída atualmente pelo Sistema Interligado Nacional (SIN) é gerada a partir de compostos orgânicos, que incluem, além do lixo, bagaço de cana-de-açúcar e resíduos de celulose. Para o especialista em otimização do sistema energético José Luz Silveira, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), de Guaratinguetá (SP), o biogás ainda é muito pouco explorado no Brasil.

“Em países como a Alemanha o biogás é muito presente e temos que pensar nisso”, comentou. De acordo com Silveira, além dos resíduos de lixo orgânico, investimentos deveriam ser feitos em outras áreas, como no tratamento de esgoto. “O tratamento de esgoto na Inglaterra, por exemplo, usa estruturas gigantes utilizando o próprio biogás de resíduos humanos para gerar energia para os ingleses”.

Potencial de combustão
Para gerar bioenergia a partir do lixo, as usinas utilizam o gás gerado na decomposição dos resíduos orgânicos - o metano. Entretanto, o potencial de geração é menor que o de outros gases. “Por mais que a gente tenha resíduo sólido urbano, não é suficiente, e, ao mesmo tempo, quando você compara com gás natural, a queima do lixo é pior, é um combustível de menor qualidade. O biogás é um insumo combustível que tem uma eficiência termodinâmica menor do que se estivesse queimando combustível fóssil”, explicou o pesquisador da UFRJ.

Energia mais barata
Ainda segundo Dantas, a redução da tarifa de energia a partir do biogás proveniente do lixo é ilusória. “Num momento de crise, o preço [do biogás] no mercado à vista está acima de R$ 600 o megawhatt/hora, qualquer coisa é mais barato. Não podemos nos iludir, principalmente porque vivemos em um momento de estresse. A energia eólica, por exemplo é R$ 100 o megawatt/hora”, comparou.

Meio ambiente
De acordo com os especialistas consultados pelo G1, a grande eficácia desse tipo de geração de energia está nas condições ambientais, já que reduz a poluição de metano na atmosfera e é uma solução para os resíduos sólidos. “Talvez a ótica até mais importante é resolver ou minimizar o manejo dos resíduos, você está utilizando esse resíduo para gerar energia está aumentando muito a vida útil dos aterros sanitários. O benefício sócio ambiental que é derivado de você dar uma destinação para esse resíduo sólido urbano”, explicou Dantas.

Segundo Silveira, o método utilizado, com a queima do lixo para acelerar a geração do metano também é importante para o meio ambiente. “Se o biogás for enviado à atmosfera sem passar pelos flaires é 21 vezes mais nocivo para o efeito estufa que o CO2. O aterro sanitário queima isso no flaire para não ter metano indo para a atmosfera, então quando ele queima fica menos nocivo”, disse.

Fonte: G1

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