Um apagão na tarde de ontem deixou sem energia por 1h54 cerca de 300 mil consumidores goianos de 50 municípios do Estado, de acordo com nota divulgada pela Celg Distribuição (Celg D). No País, a interrupção do fornecimento de energia atingiu de 5 milhões a 6 milhões de pessoas, em 11 Estados das Regiões do Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Norte.
O problema teve origem em dois curtos-circuitos na linha de transmissão entre Colinas (TO) e Serra da Mesa (GO), segundo o presidente do Operador Nacional do Sistema (ONS), Hermes Chipp. A transmissão ficou interrompida entre as 14h03 e as 14h41.
O operador explicou que, para evitar que o apagão atingisse uma fatia maior da população, as distribuidoras tiveram de fazer cortes selecionados, de cargas menos essenciais. Mesmo assim, a queda interrompeu o fluxo de 5 mil megawatts (MW) de energia vinda da Hidrelétrica de Tucuruí, o que representa cerca de 8% da carga do País. Chipp disse que 80% dos consumidores afetados tiveram a energia restabelecida meia hora depois da queda das linhas.
SUDOESTE
O POPULAR apurou que o Sudoeste Goiano foi uma das regiões do Estado mais atingidas pela falha no sistema elétrico. Parte da transmissão de energia foi interrompida nos municípios de Santa Helena, Cachoeira Alta, Chapadão do Céu e Mineiros. A queda afetou cada cidade em horários diferentes na região e atingiu também a zona rural desses municípios.
Também apurou que municípios da Região Sul, do Mato Grosso Goiano e do Entorno do Distrito Federal teriam sido afetados pelo apagão, além de registros em cidades como Anápolis e Itaberaí.
No Estado do Tocantins, o apagão durou apenas quatro minutos, mas suficientes para deixar 362 mil unidades consumidoras, localizadas em 95 municípios do Estado, sem energia.
NOTA
De acordo com a Celg D, a ocorrência provocou o corte de carga de cerca de 290 megawatts no caso específico da Celg Distribuição.
A nota informa que, às 15 horas e 38 minutos, o Operador Nacional do Sistema (ONS) autorizou a recomposição do sistema elétrico, com a normalização parcial das cargas. Ainda de acordo com a companhia, às 15 horas e 57 minutos todas as cargas da Celg Distribuidora que haviam sido interrompidas pelo problema foram restabelecidas.
CAUSAS
As causas dos curto-circuitos devem ser divulgadas amanhã, após reunião do ONS com os agentes do setor, segundo Chipp. Ele descarta, porém, avarias em equipamentos, já que o sistema de proteção foi acionado imediatamente e interrompeu a transmissão.
Foi cortado o equivalente a 7% da carga total das áreas afetadas, segundo o ONS. Preocupado com o impacto de uma crise no setor elétrico, o governo convocou uma reunião reservada de emergência logo após o incidente.
O apagão ocorre menos de um dia depois de o Operador Nacional do Sistema ter registrado pico recorde de demanda no Sistema Integrado Nacional, às 15h32 de ontem, e, às 15h33, no subsistema Sudeste-Centro Oeste. A causa dos recordes de consumo, segundo o operador, são as elevadas temperaturas em todo o País.
Além de demanda maior, houve uma mudança no horário do pico, atualmente por volta das 15h30 e não mais no início da noite. A mudança se deve principalmente ao uso de ar-condicionado, potencializado nos dias de calor mais forte.
AÇÃO
Segundo o professor titular do Programa de Energia Elétrica da Coppe/UFRJ, Djalma Falcão, se a falha tivesse ocorrido mais próximo ao horário de pico, em vez de às 14 horas, a área e os prejuízos teriam sido maiores.
Em boa parte das cidades, segundo as concessionárias, o abastecimento foi interrompido por orientação do ONS, para diminuir a demanda. “É melhor deixar uma residência sem energia por algumas horas do que cortar o fornecimento para o metrô”, argumentou Chipp.
“Conseguiram evitar um efeito dominó”, afirmou o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim. Segundo ele, isso impediu que todo o Sudeste se apagasse e permitiu que a luz fosse religada em menos tempo.
Em entrevista convocada após o apagão, o secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, disse que o problema não foi causado por sobrecarga no sistema, embora não tenha elucidado o que motivou a falha. “Não tem nada a ver com estresse do sistema.”
Analistas apontam deficiências
(Redação com FP e AE)
Para especialistas do setor, porém, o consumo recorde de eletricidade, o nível reduzido dos reservatórios das hidrelétricas e os atrasos nas obras de transmissão debilitam o Sistema Interligado Nacional.
Segundo David Zylbersztajn, sócio da DZ Negócios com Energia, “a operação se torna mais delicada”. “Possivelmente se a perturbação na linha tivesse ocorrido em contexto de menor consumo e de maior nível de água nos reservatórios, o desligamento não ocorreria.”
PREOCUPAÇÃO
O presidente da associação dos grandes consumidores de energia, Paulo Pedrosa, vê com preocupação a demora da entrada em operação de novas linhas de transmissão. Estima-se atraso médio de 13 meses nos projetos. “Menos linha significa menos segurança no sistema. O sistema interligado nos traz mais eficiência, mas, à medida que cresce, aumenta a vulnerabilidade.”
O risco de déficit de energia elétrica nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste já chega a mais de 20% neste ano. A metodologia usada pelo próprio governo para definir a operação do sistema interligado nacional aponta que esse é o risco de que falte pelo menos um megawatt de eletricidade para atender à demanda ao longo de 2014.
Segundo o secretário executivo do Ministério de Minas e Energia, Marcio Zimmermann, o apagão afetou 8% da carga do Sistema Interligado Nacional.
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Oposição culpa governo e quer Lobão no Congresso
(AG)
A oposição culpou o governo pelo apagão. Em nota, o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), responsabilizou o governo federal pela “má gestão e pela falta de investimentos no setor elétrico”. Para o DEM, há uma crise energética no País e a política do setor está fracassando, mesmo com a concessão de pesados subsídios ao setor pelo Tesouro Nacional.
“Estamos agora colhendo, infelizmente, os frutos da má gestão do governo federal na área de energia. O governo federal afugentou os investimentos. Ele poderia ter simplesmente tirado os impostos federais da conta de luz para alcançar o objetivo da sua redução. Essa excessiva intervenção do governo federal vai certamente custar muito caro a todos os brasileiros que são afetados por esses apagões, e que, se não chover rapidamente, poderão ser maiores ainda no futuro. Tudo isso fruto da incompetência e da má gestão do governo federal nesse setor fundamental para a vida dos brasileiros”, afirmou Aécio, pré-candidato à Presidência da República.
FRACASSO
O líder do DEM na Câmara, deputado Mendonça Filho (PE), apresentou requerimento pedindo a convocação do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, para falar sobre a política energética e os novos apagões, durante reunião de líderes partidários com o presidente da Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). O presidente Henrique Alves vai analisar o pedido. “A política energética do governo Dilma está fracassando, mesmo com a concessão de subsídio na veia por parte do Tesouro. Queremos saber do ministro que rumo a política energética está tomando”, disse Mendonça Filho.
Na mesma linha, o deputado Arnaldo Jardim (PPS-SP), presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Infraestrutura, disse que o setor elétrico está vivendo um “momento de estresse”. “O apagão é resultado da incúria do planejamento do setor elétrico.” Ele lembrou que o Tribunal de Contas da União (TCU) realizou levantamento sobre a situação do setor elétrico e identificou falhas.
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ONS descarta incêndio como causa
(AE)
O diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Hermes Chipp, assegurou que a falha no sistema de transmissão no início da tarde de ontem, não foi provocada por um incêndio, a exemplo do que ocorreu em outubro do ano passado. O executivo, no entanto, não descartou a possibilidade de que o defeito tenha ocorrido por conta de carga atmosférica, embora as causas ainda não sejam conhecidas.
“As causas só serão conhecidas após essa reunião na próxima quinta-feira (amanhã)”, afirmou Chipp, em referência à reunião com Aneel, MME, geradoras, transmissoras e distribuidoras envolvidas na ocorrência.
Chipp também negou que o problema foi causado por uma falha nos equipamentos ou falta de investimentos em manutenção. De acordo com o ONS, as falhas ocorreram em linhas de transmissão da Taesa, da Intensa (empresa formada pelo FIP Brasil Energia, Chesf e Eletronorte) e da Eletronorte.
Os dois defeitos iniciais ocorreram nas linhas da Taesa e da Intensa. O defeito na linha da Eletronorte foi causado por conta das falhas nas outras duas linhas, sinalizando que a perda das duas linhas causou uma sobrecarga. “O sistema não foi projetado para suportar uma dupla contingência”, afirmou Chipp.
Adicionalmente, Chipp afirmou que o forte consumo de energia verificado no País neste verão e o baixo nível dos reservatórios não têm nenhuma relação com os curtos-circuitos ocorridos hoje. “O sistema estava operando dentro dos limites de carregamento”, disse. No momento da falha, as três linhas da interligação norte-sul estavam transportando 4,8 mil MW, sendo que o limite operacional é de 5,1 mil MW.
DILMA PREOCUPADA
O apagão de ontem deixou a presidente Dilma Rousseff em alerta e preocupada em isolar o episódio do circuito político. Ao ser informada ainda nos primeiros instantes do apagão, ela conversou com o ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, e pediu que a mantivesse informada sobre todas as providências e soluções dadas para o problema.
Duas horas e meia antes do apagão, Lobão esteve no Palácio da Alvorada com Dilma, em uma reunião que durou cerca de uma hora e terminou por volta das 11h30. Ele foi acompanhado de Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), e do secretário executivo do Ministério das Minas e Energia, Marcio Zimmermann. No Planalto, o encontro antes do apagão e foi considerado uma “infeliz coincidência”.
Apesar dos problemas com o apagão, que Dilma tinha prometido que não aconteceriam mais, a presidente usou sua conta no Twitter para fazer propaganda de um projeto de infraestrutura: anunciou que o Dnit abriu, na manhã de hoje, as propostas para a construção da segunda ponte sobre o Rio Guaíba, em Porto Alegre e que, com a obra de sete quilômetros de extensão, a ponte irá melhorar.
Fonte: O Popular