Quando a presidenta Dilma Rouseff divulgou a redução das tarifas de luz, tomou como base o preço médio da energia no País, medido pelo Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), que caiu de R$ 135/MWh, em 2006, para R$ 29,42/MWh, em 2011. Mas em 2003, o valor pago pela energia no Brasil marcou a média de R$13,25/MWh. Atualmente, o preço está em R$ 555/MWh, devido ao uso de energia das termelétricas que foram acionadas por causa do baixo nível de água nos reservatórios das usinas hidrelétricas. No entanto, o risco de racionamento ainda é considerado improvável.
Para calcular a probabilidade de racionamento é necessário achar o índice chamado “risco de qualquer déficit” de energia. O indicador é calculado a partir de simulações do sistema energético que apontem um custo de operação superior a R$ 1.200 por MWh, definido pela Aneel como o custo econômico do racionamento. Na teoria, se o modelo de simulação calcular que o custo de atender a demanda é maior que os R$ 1.200 por MWh, vale mais a pena cortar a demanda.
Com base nos indicadores utilizados pelo NOS, no início de janeiro, o risco de déficit é de 18%. Esse número poderá chegar a 25% em fevereiro se a hidrologia continuar desfavorável, segundo estimativas de agentes. Em 2008, quando o país viveu uma crise de gás combinada com poucas chuvas, o risco chegou a 20%. Só como base de comparação, em 2001, antes do racionamento de energia, o “risco de qualquer déficit” ficou perto de 30%.
Augusto Francisco da Silva, engenheiro eletricista e assessor da Diretoria Técnica-Comercial da Celg Geração e Transmissão, aponta a falta de planejamento como o principal fator de risco para o racionamento. Ele acredita que em poucos dias, esse preço pode chegar a R$ 750/MWh, porque o preço médio da energia térmica gira em torno de R$ 600/MWh a R$ 1 mil/MWh.
“Na maior parte do ano, o sistema elétrico depende basicamente da capacidade dos reservatórios de água para distribuir energia para os consumidores brasileiros. Em Goiás não é diferente, embora tenhamos estabilidade regulatória. Mas o país deixou a responsabilidade nas mãos da iniciativa privada. O governo prometeu tarifas mais baratas, mas obviamente não esperava chegar a uma situação como essa. Energia não é questão política; é questão técnica”, enfatiza Augusto.
ENERGIA EM GOIÁS
Com finalidades e funções próprias, a Celg Distribuição S.A. (Celg-D), junto com a Celg Geração e Transmissão S.A. (Celg-GT) formam em Goiás a companhia Celg Participações (Celgpar), criada em dezembro de 2006. Sob patrimônio da companhia, a Celg-GT possui duas pequenas usinas hidrelétricas em operação e 12 centrais geradoras, ligadas por uma rede com aproximadamente 750 km de fios de alta tensão.
A Celg-D é responsável pela distribuição e comercialização de energia elétrica em 237 municípios de Goiás, o que corresponde a mais de 98,7% do território do Estado. Em números de residências, a companhia atende a mais de 2,5 milhões de unidades, o que representa 2,4% do consumo de energia elétrica no Brasil.
De acordo com engenheiro eletricista Augusto Francisco da Silva, assessor da Diretoria Técnica Comercial da Celg-GT, se for contabilizado o nível de produtividade das duas usinas da companhia goiana, que juntas geram 16 MW, apenas 0,8% dos consumidores seriam abastecidos, já que é necessário 2 mil MW em volume de energia para o consumo em todo o Estado.
DEMANDA
Especialista na área de Eficiência Energética da Celg Distribuição, o economista Adriano Ferreira de Faria, gerente do setor de Utilização e Qualidade de Energia, explica que apesar de um significativo aumento na capacidade produtiva, a oferta de energia não conseguiu acompanhar a demanda de crescimento econômico brasileiro, nos últimos oito anos.
“O sistema elétrico precisa de expansão, já que o desenvolvimento do País depende da eletricidade. Esse é um fator primordial e de grande importância para sustentar as bases do sistema financeiro. Sem energia elétrica, hoje em dia, nada funciona e o mercado não sobrevive. Se um determinado setor quer expandir sua capacidade, o sistema elétrico é obrigado a suprir essa carga”, comenta o economista.
Ainda de acordo com Adriano Ferreira, existem muitas barreiras para a expansão do sistema elétrico no país. Um deles seriam os gastos com tecnologias para construção de usinas com fontes de energia renováveis, servindo como alternativas mais baratas para os períodos de seca.
Mas segundo ele, ainda é difícil expandir a capacidade de energia elétrica, não só em Goiás, mas em todo o território brasileiro, principalmente, por questões financeiras, socioambientais e geográficas. “A construção de usinas hidrelétricas ainda é mais viável do que qualquer outro tipo de usina, por causa da capacidade de geração, muito superior às outras usinas”, expõe.
Comércio da Energia
De acordo com o Departamento de Comercialização da Celg-D, toda a eletricidade distribuída para os consumidores do País deve ser operada com o menor custo possível, dentro do mercado energético. Nos momentos de seca e baixa no volume dos reservatórios de usinas hidrelétricas, que tem a maior participação no Brasil, então as usinas termoelétricas são acionadas e passam a distribuir para os locais com escassez.
“Na ordem de mérito, quem tiver o menor preço é acionado antes das outras. Mas na atual circunstância, todas as termoelétricas foram acionadas e estão suprindo a capacidade das hidrelétricas”, comenta Sérgio dos Santos Júnior, gerente do departamento de Comercialização.
Segundo Sérgio, a Aneel é quem controla todo o mercado energético brasileiro, onde a eletricidade consumida no Brasil é comprada em leilões de energia, que acontecem pelo menos uma vez por ano e reúne todas as concessionárias e distribuidoras do Brasil.
“Os participantes dos leilões demonstram o montante necessário para a área de atuação do consumo, tomando como base as previsões de mercado para os próximos cinco anos. Para isso, tudo é estudado, desde as projeções econômicas, até as condições climáticas e geográficas do país”, explica Sérgio.
Reabastecimento
O setor energético no Brasil é segmentado por empresas de captação e geração, de transmissão e de distribuição. Essas empresas operam dentro de um sistema interligado no qual engloba todas as geradoras de energia elétrica por meio de linhas de transmissão (cabos de energia). A distribuição de energia elétrica é controlada por um único órgão: o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), que passa os comandos para os Centros Operacionais do Sistema (COS).
“Isso significa que, uma residência qualquer, situada na região Norte do País, pode estar recebendo nesse momento, a eletricidade gerada por uma central energética da Região Sul. O mesmo pode acontecer em outras regiões do País”, explica o gerente do Departamento de Comercialização da Celg-D, Sérgio Santos Júnior.
A instituição majoritária recebe as informações da capacidade das usinas em funcionamento quando há situações de emergência fica responsável pelas medidas de precaução, como é o caso do reabastecimento das centrais de transmissão das hidrelétricas. Dessa forma, a ONS é quem determina qual usina deve distribuir a energia, a partir da capacidade de operação. Porém, deve seguir uma ordem de mérito.
Engenheiro eletricista da Celg-D, Márcio Leonel Silva Miguel explica que o sistema interligado não isenta determinadas regiões do país de passar uma crise energética devido ao nível baixo dos reservatórios de hidrelétricas, em períodos de seca. “O impacto de uma seca no Brasil pode ser geral, atingindo até mesmo uma região chuvosa, pois tudo depende da ordem como foram feitos os contratos de energia”, avalia o engenheiro.
GERAÇÃO DE ELETRICIDADE
De acordo com dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), existem 63 concessionárias do serviço público para distribuição de eletricidade em todo o País, além de permissionárias (cooperativas de eletrificação rural que se enquadram como distribuidora, mas que não aparecem na contagem). Segundo a Aneel, o Brasil possui 2.742 empreendimentos em operação, gerando 121 milhões kW de potência.
Desses empreendimentos, 1.039 usam fontes de energia hidráulica e geram 69,7% da eletricidade no Brasil. As termoelétricas são a maioria em quantidade de usinas (1.606), mas representam 27% da capacidade energética do país. Logo em seguida, estão as duas usinas nucleares de Angra dos Reis, responsáveis por 1,66% do potencial de eletricidade do País, à frente das 84 Centrais Geradoras Eolielétricas (eólicas), que representam 1,56% do total. Por último, estão as 11 usinas fotovoltaicas (solar) com 0,01% de participação na geração de energia elétrica brasileira.
Para os próximos anos, a Aneel prevê uma adição de 47 milhões KW na capacidade de geração de energia elétrica brasileira, pois serão implantados 176 novos empreendimentos, que já estão em construção e outros 541 outorgados (que não iniciaram a construção).
O principal meio de geração de energia elétrica no Brasil é fornecido pelas usinas hidráulicas, ou seja, usinas que geram energia a partir da força das águas. Normalmente, as hidrelétricas são construídas em locais distantes dos grandes centros urbanos. Isso faz com que o preço da energia se eleve em decorrência do transporte da eletricidade por meio dos fios.
PREJUÍZOS DA ENERGIA
Existem dois tipos de prejuízos ocasionados por desperdício ou perdas de energia elétrica: perdas técnicas e perdas não técnicas. De acordo com dados da Celg-D, esses prejuízos retiram 12% da energia que entra na rede de distribuição da companhia. Goiás está abaixo da média nacional que chega 15%.
As perdas técnicas representam que envolve principalmente o transporte da eletricidade até os pontos de distribuição como equipamentos estragados, problemas com manutenção dos cabos de energia que se aquecem naturalmente, entre outros. Já as perdas não técnicas estão associadas à parte comercial como faturamento, fraudes nas contas de energia (o famoso gato) e medidores com defeito.
“O que falta no Brasil é fazer uma gestão correta do consumo de energia. O País tem um potencial enorme de expansão do setor, principalmente com energias renováveis. Se houver um consumo adequado da energia, então nunca vai faltar”, diz o economista Adriano Ferreira.
REDUÇÃO DOS GASTOS
No Programa de Eficiência Energética é necessário investir 0,5% da receita operacional da companhia líquida em projetos que utilizam a eletricidade de forma racional. Um desses projetos visa substituir o uso da energia convencional por aquecedores de água por meio de placas coletoras de energia solar, para substituir o uso do chuveiro elétrico para famílias de baixa renda. “Essa é boa uma forma investir para economizar e assim, reduzir os gastos na expansão do sistema”, diz o engenheiro eletricista Márcio Miguel.
Atualmente, existem 10 mil placas coletoras em tetos goianos e existem projetos na Celg para implantar outros 12 mil coletores no Estado. O economista Adriano Ferreira garante que o uso dessa tecnologia traz uma redução de 30% a 40% nas contas de energia.
“A legislação brasileira regulamenta a implantação desses projetos, os quais devem ser voltados para beneficiar consumidores inscritos em algum programa de auxílio do governo federal como o Bolsa Família, por exemplo. Essa é uma forma de reduzir o uso de eletricidade. O racionamento que aconteceu em 2001, serviu para ensinar os brasileiros a como utilizar a energia conscientemente”, comenta o economista.
PONTA DO CONSUMO
Durante a maior parte do dia, o gráfico de consumo da energia elétrica caminha por uma linha permanente, no período vespertino e matutino. Mas durante três horas (entre 18h e 21h) na curva de carga do gráfico, a linha de consumo atinge um pico do qual remete toda a atenção dos técnicos do sistema energético no país. O horário de pico, segundo o gerente do Setor de Utilização e Qualidade de Energia da Celg-D, é o momento onde se encaixa a iluminação pública e o retorno dos trabalhadores para suas residências.
“Nesse período do dia, o sistema de distribuição tem que estar preparado para não dar pane. Por isso, todos os investimentos com manutenção e capacidade de operação estão voltados para esse pico. Os gastos com a construção de usinas hidrelétricas, que geram desmatamento, remanejamento da fauna, deslocamento de famílias além do impacto ambiental, é tudo em função dessas três horas diárias”, esclarece o gerente.
MEDIDAS DE REDUÇÃO
O Horário de Verão foi criado com a finalidade de reduzir esse consumo, mas na verdade só deslocou o pico. As concessionárias brasileiras de energia elétrica, como em Goiás, tentam solucionar o problema com medidas socioeducativas ou financeiras. O mais comum é a realização de projetos para eficiência energética ou para o uso racional, além da estruturação tarifária, que aumenta o preço da energia para compensar a operação de forma punitiva, ou que reduz o preço como forma de incentivo.
Fonte: Diário da Manhã / Cesar Moraes
O Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Urbanas no Estado de Goiás (STIUEG) teve seu início no ano de 1949, com a criação da Associação dos Funcionários da CELG. O segundo passo importante dessa história foi dado com a extensão de base para a Associação dos Trabalhadores nas Indústrias Urbanas no Estado de Goiás...
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