ÁGUAS LINDAS (GO) e Brasília — Tristes ironias cercam Ercival Pereira de Almeida. Ao se aposentar, resolveu deixar Brasília e morar com a família em um local bucólico. Escolheu terreno no topo de um morro, onde constrói desde 1998 um sobrado. Um buraco cavado à enxada, no jardim, deixa antever a esperança de construir uma piscina. O fundo da casa dá para um lago artificial, criado por barragem que formou um reservatório de água. Mas para Almeida realizar seu sonho falta o fornecimento seguro e contínuo de água e esgoto, o que, aliás, ocorre só em metade dos domicílios brasileiros.
A maior ironia é que a cidade que Almeida escolheu para viver se chama Águas Lindas, em Goiás, na divisa com o Distrito Federal, onde está localizado o Lago Descoberto, que abastece 70% de Brasília, mas não deixa nem uma gota no município goiano.
Desde 2007, há expectativa da chegada de R$ 60 milhões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para saneamento na cidade, além de outros milhões de um acordo entre Brasília e Goiás para instalar a rede em 31 anos, a partir de 2003. Até hoje, porém, o sistema de abastecimento de água na casa de Almeida é o mesmo de quatro anos atrás. A fossa séptica ele mesmo que construiu.
— A água que temos aqui é de poço artesiano e chega para nós de uma forma precária — lamenta Almeida.
Já quase na metade do mandato, a presidente Dilma Rousseff aplicou menos de um quarto do orçamento previsto para saneamento básico. Entre 2011 e 2012 (até a primeira quinzena deste mês), de R$ 16,094 bilhões disponíveis — somados FGTS e orçamento da União — foram desembolsados R$ 3,549 bilhões, ou 22% do programado. Para especialistas, no ritmo atual, o país não alcançará a meta de universalização do serviço até 2030 (com fornecimento público de 100% de água e 88% de esgoto).
Repetir modelo da habitação
Segundo eles, o quadro só vai mudar se o governo abraçar a causa, como fez na habitação, ao criar o Minha Casa Minha Vida com forte subsídio e com foco principal na baixa renda.
Pelos cálculos incluídos no Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab), que esteve em consulta pública até setembro, seriam necessários R$ 15 bilhões por ano para atingir a meta. Em 2011, foram investidos apenas R$ 8 bilhões, somados recursos públicos e privados, de acordo com cálculos do setor e neste ano o valor deverá ser ainda menor.
A eficácia do Plansab dependerá, em parte, dos resultados das urnas neste ano, por causa da responsabilidade dos municípios em oferecer acesso a água, esgoto, drenagem e recolhimento de resíduos sólidos.
Mesmo quando contratados, muitos projetos não deslancham por falhas de concepção e resultam em bloqueios das obras. Segundo o Ministério das Cidades, dos R$ 40 bilhões previstos para saneamento no PAC 1, que vigorou de 2007 a 2010, 57% foram efetivamente executados até setembro deste ano. Pelo PAC 2, dos R$ 17,4 bilhões, 5% foram realizadas.
Ministério: não há atraso
O ministério avalia que o andamento está dentro do cronograma e não considera baixo o ritmo de execuções.
— Pelos números do próprio governo, os investimentos não atingem a universalização — disse o presidente da Associação das Empresas Estaduais de Saneamento Básico (Aesbe), José Carlos Barbosa.
De acordo com levantamento da Caixa Econômica Federal, dos R$ 9,648 reservados pelo FGTS para saneamento em 2011 e 2012, apenas R$ 2,560 bilhões foram pagos. Segundo levantamento da Consultoria de Orçamento do Congresso, dos R$ 6,446 bilhões autorizados para obras de tratamento de água e esgoto no período, só R$ 989 milhões foram desembolsados e, ainda assim, utilizando-se restos a pagar de anos anteriores.
— Os recursos não têm sido suficientes para aumentar, de forma significativa, a cobertura — reforçou o especialista em saneamento do Banco Mundial, Thadeu Abicalil.
As desculpas para a falta de investimentos no setor são as mesmas de décadas atrás: faltam bons projetos, concessionárias estão quebradas e estados e municípios não têm capacidade de tomar empréstimos. Além disso, há morosidade nas licitações. O Ministério das Cidades repassa recursos e oferece apoio, mas os projetos dependem das empresas, estados e municípios.
— Falta uma política de recuperação das empresas municipais país afora. A maioria tem uso político e são deficitárias — disse a consultora da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) Maria Henriqueta Arantes.
Enquanto queimava o lixo que nunca foi recolhido de sua casa em Águas Lindas, o pintor Bruno Inácio dos Santos via, ao longe, um asfalto novinho sendo instalado:
— Aqui a pavimentação veio antes.
Ali perto, sua vizinha Laiane Pires da Silva lembra que há algumas semanas equipes do governo deixaram “toquinhos” de madeira no chão, indicando que poderiam fazer o saneamento.
— Depois das eleições não vimos mais ninguém aqui na rua — disse ela.
Fonte O GLOBO
O Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Urbanas no Estado de Goiás (STIUEG) teve seu início no ano de 1949, com a criação da Associação dos Funcionários da CELG. O segundo passo importante dessa história foi dado com a extensão de base para a Associação dos Trabalhadores nas Indústrias Urbanas no Estado de Goiás...
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