Fabiana Pulcineli,
Já alertado de uma operação policial em Goiás e aparentemente buscando se prevenir de acusações, o empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, determinou uma varredura na presidência da estatal Saneago, em Goiânia. A solicitação, feita ao araponga Jairo Martins de Sousa, foi gravada cinco dias antes de ser deflagrada a Operação Monte Carlo, que prendeu Cachoeira e aliados em 29 de fevereiro.
A ligação telefônica aparece em parte do inquérito da Polícia Federal que vazou na terça-feira para o site Brasil 247. Naquele mesmo dia, o então presidente da Saneago, Nilson Freire, deixou o cargo. Um dos últimos atos de Nilson foi determinar a rescisão de contrato de R$ 7,2 milhões da Saneago com a Delta, empresa que fazia parte dos negócios de Cachoeira.
De acordo com as gravações, o grupo do empresário já mostrava preocupação com informações a respeito de investigações da PF. No dia 24 de fevereiro, em conversa com Jairo, que é policial militar, Cachoeira pede varredura na segunda-feira seguinte no gabinete da Saneago.
O inquérito não detalha o diálogo. Diz apenas que houve o pedido e que, na mesma conversa, Cachoeira afirma que “Wladmir (Garcêz) será o contato para levar Valmir e que tem de ser até segunda no máximo”. O documento não identifica Valmir.
Em ligação no minuto seguinte a um homem não identificado, Jairo o chama para “fazer serviço na segunda-feira de manhã na Saneago”.
Nilson Freire, que ontem foi anunciado em nota do governador Marconi Perillo (PSDB) como novo diretor de Saúde do Instituto de Assistência dos Servidores Públicos do Estado de Goiás (Ipasgo), disse ao POPULAR que não sabia da citação da Saneago nas gravações da Monte Carlo e que desconhece interesse de Cachoeira e seu grupo no gabinete da presidência da estatal.
Embora a Saneago tenha fechado contrato com a Delta no início deste ano, Nilson afirma que nunca teve contatos com Cachoeira ou qualquer representante da empresa. “Graças a Deus, nunca tive conversa nenhuma. A turma dele (de Cachoeira) é bem grande, mas eu não tinha contato com ninguém. Graças a Deus, não”, disse. “Nunca vi (o Cachoeira). Estou conhecendo ele agora pela TV e pelos jornais”, completou.
Licitação
Segundo o ex-presidente, a Delta venceu licitação no final do ano passado para locação de maquinário destinado à manutenção das instalações da Saneago em todo o Estado.
De acordo com Nilson, o contrato era de R$ 7,2 milhões em um ano, mas o processo de rescisão foi iniciado na semana passada depois de falhas no cumprimento do contrato. O ex-presidente afirma que a Delta forneceu apenas parte das máquinas e caminhões em fevereiro e março deste ano. Depois disso, segundo ele, a Saneago notificou a empresa para que tornasse disponível o restante do maquinário.
“Alegaram que não tinham e pediram mais 60 dias. Como não houve o cumprimento do contrato, de forma consensual decidimos rescindir o contrato na semana passada”, explicou. Nilson disse que a licitação, por meio de pregão, não teve nenhuma irregularidade, daí a decisão por não suspender o contrato antes, mesmo diante do escândalo revelado pela Monte Carlo.
O ex-presidente afirma que lançou a licitação no ano passado porque as máquinas da Saneago estavam antigas e precisavam ser substituídas. “Achamos mais conveniente locar que comprar. Eram dois lotes. A Delta ganhou um.”
Nilson diz não se lembrar como foi a concorrência. Os dados do pregão não estão disponíveis no portal de licitações da Saneago nem no site de compras do governo estadual. O ex-presidente afirma que a decisão da estatal agora é por leiloar o maquinário antigo e comprar nova frota.
Segundo ele, apenas R$ 110 mil foram pagos à Delta pelos serviços prestados. “Foram R$ 30 mil em fevereiro e R$ 80 mil em março. Depois disso não forneceram mais as máquinas e não houve pagamentos.”
Nilson disse ainda que as questões do pregão e do contrato da Delta foram tratadas, respectivamente, pela Comissão de Licitação e pela Diretoria de Administração da Saneago, comandada por Mauro Henrique Barbosa. “Eles que cuidaram disso.”
Questionado sobre o trecho das gravações, Nilson perguntou: “Mas quando ele fala para fazer varredura ele quer dizer que é para grampear ou ver se está grampeado?”
O ex-presidente afirma que é difícil que alguém tivesse acesso a sua sala sem seu conhecimento e que não sabe dizer qual seria a preocupação de Cachoeira com o pedido.
Nilson reafirmou que sua saída da presidência da estatal ocorreu apenas por conta do acordo feito com o prefeito de Itumbiara, José Gomes da Rocha (PP), que detém o comando político da estatal desde 2006. José Gomes assumiria a presidência, mas desistiu de renunciar ao mandato.
Por indicação do prefeito, ontem o governador anunciou o até então secretário da Fazenda de Itumbiara, Roberto Ferreira Marques, para o comando da estatal.
O nome de José Gomes também aparece nas gravações da PF, mas o conteúdo do inquérito não deixa claro o tipo de relação com Cachoeira. Em um trecho, a polícia suspeita que Gomes seja referência a ele. Em outro, Cachoeira diz a Gleyb Ferreira da Cruz, braço direito do contraventor, que o prefeito de Itumbiara que falar com o grupo deles por meio de Wladmir.
Baixas
Desde as prisões da Operação Monte Carlo, três auxiliares do governo deixaram os cargos por envolvimento com Cachoeira. Edivaldo Cardoso (Detran), Ronald Bicca (Procuradoria Geral do Estado) e Eliane Pinheiro (Chefia de Gabinete da Governadoria) aparecem nas gravações como pessoas próximas do contraventor. A PF suspeita que os dois primeiros atuavam em favor da quadrilha.
Em abril, o governo baixou portaria determinando auditoria em todos os contratos do Grupo Delta com o Estado, mas não houve suspensão.
Fonte: Jornal O Popular (12/05/2012)
O Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Urbanas no Estado de Goiás (STIUEG) teve seu início no ano de 1949, com a criação da Associação dos Funcionários da CELG. O segundo passo importante dessa história foi dado com a extensão de base para a Associação dos Trabalhadores nas Indústrias Urbanas no Estado de Goiás...
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