O serviço de oferta de energia elétrica é monopólio estatal em Goiás. Ou seja, bom ou ruim, só se pode comprar energia do governo. E este é o drama, como ocorre nos demais serviços públicos, quando o serviço é mal prestado – vai se reclamar do governo para o próprio governo? Isso ocorre com saúde, educação, Previdência Social e, entre tantos outros, energia. Mas, educação ruim ou saúde ruim, por exemplo, pode-se correr e pagar (duas vezes) comprando também o serviço no setor privado – o que não ocorre com a energia.

Desde a fundação, em 1955, da Companhia Energética de Goiás (Celg), então Centrais Elétricas, as sucessivas diretorias da empresa se destacaram historicamente pela formação de bons quadros profissionais, mas também pelas gestões equivocadas, confundindo caixa da estatal com o do governo, desvios de recursos, uso político das atividades da empresa e a realização e rolagem de dívidas astronômicas, que, por fim, culminaram em um endividamento de quase R$ 7 bilhões.

No último dia 7, a Celg passou a ter novo presidente. Técnico, desta vez. É importante dizer que, em algumas outras diretorias, técnicos locais assumiram e necessitaram se “tornar” políticos ou passíveis de atender todo e qualquer pedido politiqueiro ou financeiro de seus governadores.

Todos os governadores também governavam a Celg. Quase sempre em ordem direta: “cumpra-se”. Aliás, este duplo comando seria um dos maiores transtornos da companhia.

Mas, pela primeira vez, o novo sócio majoritário da empresa, a Eletrobras, deu as cartas e mandou o novo presidente assumir. Na posse, o engenheiro Leonardo Lins de Albuquerque disse que os indicadores apontam que a empresa tem prestado um bom serviço à população – admitiu em encontro com funcionários.

Pelo histórico de apagões sucessivos dos últimos anos da estatal, 6 milhões de goianos discordam desta afirmação. Aliás, a frase foi mal recebida. Existe a expectativa de uma relação franca entre a Celg e seus clientes. Frase política sobre a companhia de energia, mesmo que o contexto e a intenção não fossem esta, é uma rotina que os goianos querem esquecer. Melhor ser direto: dar o diagnóstico real e tratar, mesmo com os sacrifícios necessários.

Os discursos cansaram os clientes da Celg que assistem sua energia cair em plena tarde de sol. Ou as interrupções do serviço em dias chuvosos, com a falta de manutenção da rede, em função de corte técnico ou de retirada de árvores condenadas.

O detalhe é que, após a posse do novo executivo, a própria Celg ficou 24 horas sem energia – segundo relato de três funcionários da estatal a este colunista. A expectativa é que a vasta experiência da Eletrobras e de sua equipe solucione os grandes problemas da estatal goiana, que estão além dos gargalos da dívida. Para o consumidor final, as soluções precisam vir rápidas, antes dos discursos.

 

Fonte: Jornal O Popular