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Crise econômica: medidas adotadas em 2008 podem não mais surtir efeitos

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23/11/2011

Crescimento nulo no terceiro trimestre e queda abrupta da atividade industrial acendem sinal de alerta no mercado. Foto: ABr

Em meio à deterioração da economia mundial, o Brasil registrou crescimento nulo no terceiro trimestre, anunciou nesta terça-feira 22 o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa. Segundo ele, o País deve, contudo, se recuperar no quarto trimestre e levar o avanço do PIB aos 3,8% projetados pelo governo — até a última semana estimados em 4,5%.

O mercado, por outro lado, mostra-se preocupado com a forte queda da atividade econômica, que havia registrado crescimento de 0,8% no segundo trimestre deste ano. O boletim Foccus de segunda-feira 21, por exemplo, estima o crescimento do País em 3,16% para 2011.

A situação brasileira é difícil, diz Júlio Sérgio Gomes de Almeida, doutor em economia e consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), pois o ritmo de desacelerção é intenso e o agravamento da crise poderia piorar o cenário. Segundo o analista, as medidas adotadas pelo governo para conter a queda, como o corte na Selic, ainda não surtiram efeito. “Pode ser que isso ocorra apenas no segundo trimestre de 2012”, diz.

Enquanto isso, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a atividade industrial caiu 2% entre agosto e setembro, influenciada pela paralisação da produção de carros devido ao excesso de estoques em estados como São Paulo e Minas Gerais.

Um indicador de avanço da crise que, de acordo com Almeida, poderia obrigar o governo a adotar instrumentos de compensação usados em 2008, como a ampliação do crédito pessoal e o incentivo fiscal sobre bens duráveis. “Essas ações sempre funcionam para movimentar a economia e o governo já vem adotando medidas neste sentido, mas corre-se o risco de hoje serem menos eficientes.”

Em 2009, com a redução da alíquota do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI) para carros, o Brasil registrou o recorde de 3,14 milhões de automóveis vendidos. No ano seguinte, o setor seguiu com forte desempenho e somou 3,5 milhões de unidades comercializadas, já sem a isenção fiscal. “Nos últimos três anos, o mercado de bens de consumo cresceu muito e pode não ter o mesmo fôlego para voltar a repetir o crescimento em caso de novo estímulo do governo.”

Mesmo com o cenário negativo, Barbosa trabalha com a possibilidade de crescimento para 2012 em 4%, enquanto o mercado aposta em 3,5%, segundo o boletim Foccus. Para justificar a previsão, o secretário-executivo destacou a queda da taxa básica de juros, o aumento do salário mínimo para 622,73 reais a partir de janeiro e mais as desonerações fiscais do Simples Nacional (regime tributário diferenciado para empresas de pequeno porte), que deve injetar 8 bilhões de reais na economia. “Essas medidas são estimulantes, mas o quadro internacional deve ser ainda mais difícil”, afirma o economista.

Para Almeida, nem mesmo o Programa Brasil Maior, que vai desonerar a folha de pagamento das empresas dos setores de calçados, confecções e tecnologia da informação, entre outros, em até 20% em troca de uma contribuição de 1,5% a 2,5% sobre o faturamento, seria o suficiente para alavancar o desempenho da indústria nacional. “Essa desoneração refletirá mais em 2012 e vai ajudar a indústria, mas sem aumentar a baixa competitividade do setor.”

Em um quadro industrial com retração do investimento privado, o governo deve se fazer mais presente, diz o especialista. Algo que deve ocorrer com a expansão do aporte públicos em obras do PAC, do Programa Minha Casa, Minha Vida e do Programa Nacional de Banda Larga. “Isso é positivo e pode dinamizar a economia. Além disso, se a crise piorar, esses investimentos podem minimizar os efeitos externos.”

 

Fonte: Carta Capital

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