ELEONORA DE LUCENA
DE SÃO PAULO
A terceirização reduz salários, aumenta a intensidade do trabalho e desorganiza os sindicatos. É nela que a indústria se sustenta. A visão é do sociólogo Ricardo Antunes, 58, que prevê aumento nas lutas sociais no mundo. Professor de sociologia do trabalho na Unicamp, ele está lançando o livro "O Continente do Labor". Nesta entrevista, ele fala das greves dos bancários e dos Correios.
Folha - Como analisar greves como a dos bancários e dos Correios?
Ricardo Antunes - Diziam que não iria haver mais greve bancária. Chegamos a ter 1 milhão de bancários. Hoje são 490 mil, mas há milhares nos call centers que realizam trabalho de bancários. Até a compensação é terceirizada. A terceirização é a porta da precarização e da informalidade. Os bancários mostram que é possível fazer greve.
Qual é a novidade nesse movimento?
Para extrair um aumento um pouco maior do que a inflação do setor mais rentável da economia é preciso fazer greve. Mesmo nesse mundo cheio de máquinas, com pelo menos um terço do trabalho bancário sendo realizado por terceirizados, é possível parar um banco e exigir negociações. Já os Correios querem se tornar uma transnacional da correspondência, mas tratam os seus trabalhadores como um nível de intensificação da força de trabalho.
Como é essa nova morfologia produtiva e como ela afeta o sindicalismo?
Reestruturação produtiva, desregulamentação do trabalho, informalização. Chegamos a ter quase 60% na informalidade. Os sindicatos não sabem representar a classe trabalhadora informalizada.
O sindicalismo hoje não é muito atrelado ao Estado e ficou anestesiado?
Sim. O sindicalismo autônomo dos anos 70 desapareceu. Na CUT houve processo gradativo estatização das cúpulas. A briga é para ver quem fica com o ministério, a previdência, a secretaria.
Historicamente como isso se situa?
O sindicalismo está vivendo um processo semelhante ao que houve na virada do século 19 para o 20, quando o sindicalismo de ofício foi alterado porque nasceu a indústria fordista e foi criado o sindicalismo de massa. Agora, a tendência da indústria é ser liofilizada, enxuta. Assim, as empresas esparramam a produção e nasceram pequenas fábricas chamadas de "outsourcing". Qual é o sindicato hoje capaz de enfrentar isso? Os sindicatos, como no século 19 para o 20, estão passando por um tsunami e desse tsunami vão nascer formas novas.
A Zara se enquadra nisso?
Terceirização é isso. A indústria de ponta hoje se sustenta no trabalho precário. A terceirização reduz salários e aumenta a intensidade do trabalho, o adoecimento, as horas de trabalho, a desorganização sindical, a rotatividade. A Zara utilizou de trabalho de bolivianos e peruanos, que trabalham 16 horas por dia na indústria de confecção. Isso tem que ser coibido.
O sr. diz que Lula foi o paladino do capital. O que acha de Dilma?
É uma incógnita. Num período de crescimento de 4%, a incógnita não aflora. Quando a coisa esquentar e as lutas sociais se ampliarem...
O sr. acha que isso vai acontecer?
Não tenho dúvida. Tem havido em todo o cenário global uma amplificação das lutas sociais.
Fonte: Folha de São Paulo
O Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Urbanas no Estado de Goiás (STIUEG) teve seu início no ano de 1949, com a criação da Associação dos Funcionários da CELG. O segundo passo importante dessa história foi dado com a extensão de base para a Associação dos Trabalhadores nas Indústrias Urbanas no Estado de Goiás...
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