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Plano prevê empréstimo e venda de até 49% das ações da Celg

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27/01/2011
Fabiana Pulcineli

Sexta proposta de recuperação da Celg em dez anos, o plano de reestruturação financeira da companhia apresentado ontem pelo governo estadual prevê empréstimo de R$ 2,7 bilhões da Caixa Econômica Federal e venda de até 49% das ações para outras estatais, com aporte previsto de mais R$ 1 bilhão em 2012.

O documento, entregue na noite de terça-feira ao ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, propõe que sejam aproveitadas as condições da operação negociada pelo governo anterior para o empréstimo, com repasse em duas parcelas (leia quadro).
Apresentado pelo governador Marconi Perillo (PSDB) e detalhado pela direção da estatal, em evento no Palácio Pedro Ludovico Teixeira, o plano prioriza o pagamento das dívidas da companhia com o setor elétrico. A quitação dos débitos intrassetoriais viabiliza a autorização para reajuste tarifário e a liberação de recursos de programas federais.

São quatro as principais diferenças em relação ao acordo anterior, proposto pelo ex-governador Alcides Rodrigues (PP). Além do valor menor do empréstimo, na nova proposta, o Estado não ficará com parte dos recursos por conta do ICMS. Alcides queria receber cerca de R$ 700 milhões. Marconi determinou o encontro de contas, em que o Estado deve à Celg R$ 2 bilhões e tem a receber R$ 800 milhões. Assim, a primeira parcela do empréstimo será totalmente repassada à estatal.

Em outro ponto divergente, o governo atual está disposto a vender até 49% das ações da companhia, enquanto no acordo anterior, o Estado manteria 94% do capital acionário, transferindo à Eletrobras apenas 6%. Marconi mantém contatos com a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) e outras empresas em busca de parceiros.

O presidente da companhia, José Eliton, já teve conversas também com a SC Parcerias, estatal de Santa Catarina. Questionado se 49% das ações da Celg poderiam chegar a valer R$ 1 bilhão, como prevê o plano, José Eliton afirmou que há interesse do mercado de aplicar até mais. O governo acredita que, com o aporte inicial de R$ 1,2 bilhão e a renegociação da dívida, a empresa será valorizada.

Eliton informou que a companhia está aberta a conversas também com a Eletrobras, mas, diferentemente da operação anterior, o governo não aceita que o comando da empresa seja da estatal federal. "Aquilo não era gestão compartilhada. A Eletrobras indicaria os quatro diretores e o vice-presidente. O Estado teria só o presidente, que seria uma rainha da Inglaterra lá", disse.

O plano prevê ainda empréstimo de R$ 700 milhões à Celg para pagar dívidas com o sistema financeiro. Eliton explicou que a medida nada tem a ver com o empréstimo-ponte negociado pelo governo anterior, que serviria para pagar ICMS ao Estado.


Resposta deve sair em 2 semanas

Ao receber o plano de recuperação da Celg, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, informou que a proposta será avaliada por sua assessoria técnica e que o governo federal deve dar uma resposta em até duas semanas. Coube ao senador Demóstenes Torres (DEM) a tarefa de levar ao ministro o documento, na terça-feira.

Demóstenes justificou que, além de ter "relação espetacular" com o ministro, teve de ir a Brasília para tratar de assuntos partidários. Como o governador Marconi Perillo e o presidente da Celg, José Eliton, tinham outros compromissos, ele assumiu a tarefa, contou.

Demóstenes afirmou que o ministro disse que discutirá a proposta com a Caixa Econômica Federal, BNDES, Secretaria do Tesouro Nacional, com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e com a presidente Dilma Rousseff.

O ministro disse que estaria afastado do cargo esta semana para uma cirurgia de catarata, mas que, ao retornar, tomaria as providências de análise. "Lobão mostrou que conhece profundamente a situação da Celg. Sabe da urgência de medidas", disse Demóstenes, que acredita que haverá uma resposta do governo federal ainda no mês de fevereiro.

O POPULAR solicitou entrevista com o ministro ou algum integrante da pasta sobre a nova operação, mas a assessoria de imprensa informou que o ministério não comentará agora as negociações.

Demóstenes disse ver boa vontade por parte do ministro e crê no aproveitamento dos termos do empréstimo negociado antes.(F.P.)



Estado pode sofrer apagão este ano com subestações sobrecarregadas

O plano de recuperação da Celg informa que há risco de apagão no Estado ainda este ano, já que as quatro principais subestações da companhia "estão nos limites extremos de carregamento". Como adiantou O POPULAR na segunda-feira, o documento estabelece a necessidade de investimentos de R$ 250 milhões mensais para que não ocorra colapso do sistema.
Com programa de investimentos até 2020, o plano prevê implantação de quatro novas subestações e cinco linhas de transmissão na região metropolitana de Goiânia até 2014. "Corremos o risco de apagão em meados do ano", afirmou o governador Marconi Perillo (PSDB).

Segundo ele, se o Estado obtiver o empréstimo e avançar na operação com agilidade, a companhia poderá ter patrimônio líquido positivo a partir do próximo ano. A empresa voltaria a ter lucro em 2015. Na apresentação do plano, Marconi disse que houve grande queda nos investimentos no ano passado. Nem o governo nem a Celg, no entanto, informaram qual o valor.
Marconi afirmou ainda que o endividamento da estatal cresceu quase R$ 3 bilhões nos últimos quatro anos. Segundo ele, a proposta de sua gestão é "absolutamente factível, decente e honesta", com a redução do empréstimo e o Estado abrindo mão do ICMS.

A parcela do imposto destinado às prefeituras será assumida também pelo Estado, diferentemente do que se discutiu anteriormente.(F.P.)


ANÁLISE

Promessas esquecidas


Pelo menos três promessas foram esquecidas pelo governo na definição do plano de recuperação da Celg. O tão defendido encontro de contas com o governo federal, que, diziam, reduziria até R$ 2 bilhões da dívida da estatal, não ganhou uma linha na proposta.

Nem poderia. Na segunda-feira, o governo já sentiu as dificuldades em fechar a nova operação em audiência no Ministério de Minas e Energia, quando o presidente da Eletrobras, José Muniz, disse que a negociação está "zerada". A gestão estadual tem esperanças de que a discussão seja mais técnica, mas sabe que há o peso político. Nada de arrumar problema com o governo federal querendo exigir encontro de contas, como tanto cobravam.

A prometida gestão técnica, com nomes indicados pelos funcionários, como se sabe, também não se concretizou. A maioria dos integrantes da direção e dos conselhos da companhia é indicação política. Além disso, o governo descobriu a necessidade de endividamento em R$ 2,7 bilhões, enquanto antes afirmava que o comprometimento seria grande demais. A ideia inicial era contratar R$ 1,2 bilhão.(F.P.)


Fonte: Jornal O Popular
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