O Estado não vai perder o controle acionário da Celg, garantiu ontem o governador Marconi Perillo (PSDB), reafirmando o compromisso de campanha de não privatizar a estatal. Ele admite conversas com a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) e outras empresas para negociar a transferência de ações, mas afirma que o comando continuará nas mãos de Goiás. Depois de atuar fortemente para que a operação acertada pelo governo anterior fosse cancelada, Marconi diz que um empréstimo não está descartado, mas que a hipótese será analisada após o plano de recuperação da Celg e o encontro de contas com o Estado. "Fizeram tempestade em copo d´água. Criaram uma celeuma que acabou desvalorizando a empresa. Vamos lutar para resolver o problema. Não vou ficar choramingando por cinco anos", disse Marconi em entrevista ao Bom Dia Goiás, da TV Anhanguera. Ele afirmou ter sido contrário à negociação comandada pelo antecessor, Alcides Rodrigues (PP), que "queria desviar o dinheiro do empréstimo para pagar outras contas e não resolver o problema da Celg".
Depois da entrevista ao Bom Dia, Marconi falou com a reportagem do POPULAR, quando deu mais detalhes do que pretende negociar em relação à Celg. Leia abaixo.
O que houve de fato de conversa com a Cemig? O sr. disse que o Estado não vai perder o controle acionário. Qual o porcentual de ações que pode ser transferido a outras empresas?
A primeira preocupação nossa agora é constituir um bom Conselho de Administração e Fiscal da Celg, com a presença da Sefaz, Seplan e técnicos que virão de outros Estados. São técnicos conceituados no mercado de energia e bons executivos. José Eliton (vice-governador e presidente da Celg) já está trabalhando esses nomes. Depois, eles terão um mês de prazo para apresentação de um plano de ajuste da empresa. Já tomei essa decisão ontem (domingo). Enquanto isso, farão as tratativas junto à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Eletrobras, Ministério de Minas e Energia, e vão buscar também um encontro de contas entre o Tesouro Estadual e a Celg. Além disso, vamos buscar parcerias ou associações com empresas públicas ou privadas, não necessariamente só a Cemig.
Mas já houve conversas com a Cemig...
A Cemig é uma prioridade porque é uma empresa pública, com capital aberto e é uma empresa de sucesso. Agora, não precisa ser necessariamente ela. A ideia é que as empresas entrem com aporte de capital e tenham um porcentual minoritário das ações da empresa.
Seriam vendidos até 41% das ações, como já foi aprovado pela Assembleia Legislativa?
Ou mais, pode ser até 49%. O importante é que a gestão e o capital majoritário da empresa estejam com o Estado.
E vai ser preciso tomar empréstimo?
Eu acho que em relação à complementação do valor devido pelo Estado à empresa, é possível que sim. O Estado deve R$ 2 bilhões. Nós temos cerca de R$ 700 milhões a receber (ICMS), sem contar a cota dos municípios, da empresa para com o Estado. Então, o Estado teria de ressarcir algo em torno de R$ 1,3 bilhão. Em princípio, creio que poderíamos imaginar a contratação de empréstimo para saldar essa dívida do Estado com a Celg. Mas vamos avaliar também as vantagens desse empréstimo. E se é possível tomar esse empréstimo nos moldes em que foram tratados anteriormente. Pelas informações de que disponho, que são superficiais, o Estado não tem capacidade de endividamento além de R$ 1,3 bilhão.
O governo passado falava em R$ 4 bilhões de limite.
É preciso analisar se efetivamente o Estado tem capacidade para tomar empréstimo maior. Agora, sinceramente, acho menos vantajoso tomar um empréstimo, que vai comprometer o Tesouro, do que se associar a uma empresa forte, sólida, saudável, para que a gente tenha recurso, não só para sanear a empresa - e o saneamento vai levar em conta também o alongamento de algumas dívidas intrasetoriais, com o sistema Eletrobras, por exemplo -, mas também para investimentos. A Celg tem de ter um cronograma urgente de investimentos para fazer face às demandas da indústria, do comércio, e das residências que precisam de melhoria. Precisamos de dinheiro para sanear e para investimento.
Mas o que faria essas empresas terem interesse em investir na Celg, uma estatal que tem R$ 4 bilhões de dívida?
Olha, isso é muito relativo. Nós conversamos com a Aneel. Falava-se em R$ 6 bilhões de dívida. Isso leva em consideração passivos trabalhistas, judiciais. Não chega a R$ 4 bilhões a dívida. Agora, a Celg é uma empresa atrativa, sim. Ela tem quase 1,5 milhão de consumidores. É uma empresa que tem tudo para se destacar entre as melhores do País. Tivemos um problema grave, que é recorrente, mas não pode deixar de ser considerado, que foi a privatização da nossa geradora (Usina de Cachoeira Dourada, em 1998). Agora, trazendo uma empresa forte, que já gera energia como é o caso da Cemig, ou uma outra, mesmo que seja de capital privado, teremos condições de investir também em geração. Tenho certeza de que, com um bom plano de recuperação, em pouco tempo a Celg deixará de ser manchete de jornais e voltará a ser uma empresa forte.
Direção com perfil político
Embora o governador Marconi Perillo (PSDB) tenha prometido na campanha eleitoral uma gestão técnica para a Celg, definida em consulta aos funcionários, o grupo que toma posse na direção da estatal hoje é essencialmente político (veja quadro).
O presidente será o vice-governador José Eliton (DEM), que leva para a companhia, no Conselho de Administração, outros dois nomes que têm ligação com o partido - o deputado federal José Carlos Aleluia (DEM-BA) e o ex-presidente da Eletrobras, no governo Fernando Henrique Cardoso, Firmino Sampaio.
Os demais cargos do conselho são ocupados por auxiliares do governo e pelo ex-prefeito de Goiânia Nion Albernaz (PSDB). A posse será às 10 horas, no auditório da Celg, com o governador.
O Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Urbanas no Estado de Goiás (STIUEG) teve seu início no ano de 1949,
com a criação da Associação dos Funcionários da CELG. O segundo passo importante dessa história foi dado com a
extensão de base para a Associação dos Trabalhadores nas Indústrias Urbanas no Estado de Goiás...