Chegadas as primeiras chuvas, após mais de quatro meses de estiagem, a tendência da população é esquecer dramas e angústias da estiagem - até que nova seca, no ano que vem, volte a angustiá-la. Mas não deveria ser assim. A cada ano, o panorama é mais preocupante. O Serviço Geológico do Brasil mostra (O POPULAR, 10/10) que o volume médio de chuvas no Estado diminuiu 6,58% entre 1974 e 2008. E que as precipitações se tornaram mais fortes e concentradas. É preciso mudar a postura, na sociedade e nos governos.
Este ano, de novo, um número maior de municípios goianos teve de ser abastecido por carros-pipa, já que dezenas de mananciais secaram, segundo a Saneago. E a situação não para de agravar-se, principalmente nas regiões Nordeste e Norte, por causa da compactação do solo desmatado e destinado ao cultivo, que reduz a infiltração da água e o volume estocado no subsolo (estimativas do Ministério do Meio Ambiente dizem que em poucos anos esse estoque, no conjunto do Cerrado, caiu de sete para quatro anos do fluxo para as três grandes bacias - Araguaia-Tocantins, Paranaíba-Paraná e São Francisco).
Em Goiânia, o mês de setembro foi o mais árido da década, com a umidade do ar baixando em média para 18% (com picos negativos de 14%) e a temperatura média em 35,6 graus, também a mais alta da década. 137 de 246 municípios tiveram problemas graves com a seca, 130 com queimadas. Nos últimos dias de estiagem, a Saneago registrava queda de um centímetro por dia no nível do Rio Meia Ponte. Em Aragarças, o Rio Araguaia estava com 74 centímetros de nível médio, contra 5,25 metros ao longo do tempo. Chegou a faltar água em partes de Goiânia e Aparecida. Há estudos de que a cidade de Goiás poderá ter graves problemas de abastecimento em poucos anos.
É preciso mudar - repita-se. Começa-se a avançar em alguns pontos, como o programa de pagamento a produtores rurais para que conservem nascentes e mananciais, levado à frente pela Saneago, com participação da Agência Nacional de Águas. É um tipo de programa que começou no Estado de Nova York, onde sua implantação em larga escala aumentou a oferta de água. No Brasil, a primeira experiência bem-sucedida foi no município de Extrema, Minas Gerais. Mas precisa avançar para todas as bacias do Estado. E para isso é preciso que o Estado destine recursos específicos à empresa de saneamento.
Também é preciso avançar nos programas do reservatório do João Leite. Felizmente, parece afastada a proposta de outras áreas, de implantar às suas margens um complexo turístico/hoteleiro, que implicaria muitos problemas para a qualidade da água.
Segundo o professor Galizia Tundisi, um dos maiores especialistas em recursos hídricos no País, e que fez um estudo específico, junto com outros fatores negativos (lixo, destruição de matas ciliares, carreamento de agrotóxicos etc.), aquele caminho poderia conduzir a um aumento entre três e cinco vezes no custo de tratamento da água - que caberia a toda a população pagar. Mas será preciso avançar ainda mais a montante do reservatório, nos vários municípios - equacionando o problema do lixo, ampliando o programa de pagamento a agricultores "produtores de água", avançando na questão do saneamento.
Os municípios da bacia do João Leite não são exceção no panorama do saneamento em Goiás (O POPULAR, 19/9). A falta de destinação de recursos suficientes se traduz em 60% dos municípios sem redes de coleta de esgotos e apenas 34,8% com tratamento do que é coletado. Uma quantidade imensa de dejetos vai para os cursos dágua, outra parte para o subsolo através de fossas. Os cálculos da Saneago dizem que serão necessários pelo menos R$ 3 bilhões para que possa progredir decisivamente na área do saneamento. Mas - a empresa já advertiu - ainda haverá outro problema a resolver: grande parte da população não teria como pagar um acréscimo de 80% nas contas de água com a implantação das redes de esgotos. Que se fará?
Goiás não é exceção no difícil quadro do saneamento no Brasil. Segundo a Pnad 2008, só 59,1% dos domicílios brasileiros são ligados a redes coletoras de esgotos ou dispõem de fossas sépticas. O restante é despejado sem tratamento nos cursos dágua. Se o saneamento fosse universalizado, diz a Fundação Getúlio Vargas, poderia ser evitada a maior parte das 251 mil internações hospitalares no País em consequência de gastroenterites. Em Goiás, têm sido mais de 15 mil por ano. A produtividade média e a renda dos trabalhadores no Estado poderiam crescer 7,9%. Então, é fundamental que as administrações estadual e municipais destinem recursos consideráveis para essa área. E não apenas elas. Há décadas, todo ano a administração federal anuncia que fará vultosos investimentos no setor e sempre concretiza apenas uma parcela, em geral inferior a 50% da previsão - o que leva a concluir que a chamada "universalização" do saneamento, prevista para 20 anos (se fossem de fato aplicados R$10 bilhões por ano), levará muito mais tempo.
A sociedade precisa refletir. Setenta por cento de toda a água no mundo está nos oceanos e o restante, quase todo, em geleiras e calotas polares. Menos de 1% está disponível para uso humano. O Brasil, embora privilegiado, tem 13% da água superficial do Planeta - 13% de menos de 1%. E com 80% do disponível na Região Norte. É preciso cuidar.
Washington Novaes é jornalista
Fonte: Jornal O Popular
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