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Barragem do João Leite já sofre com uso irregular

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13/05/2010

Patrícia Drummond

Um belo lago, gado bebendo água, um caiaque, restos de fogueira. A cena bem que poderia ser de um filme. Mas foi flagrada em um lugar nada apropriado: o Lago do Ribeirão João Leite, formado para garantir o abastecimento de água da população de parte da Região Metropolitana de Goiânia até 2025. Por causa disso, é proibido qualquer tipo de uso da represa, para evitar contaminação.

Mas os sinais de ocupação humana e a presença de animais, além de outras fontes poluidoras, foram verificadas no local, em vistoria feita ontem pela polícia civil nos pontos próximos à BR-060, que liga Goiânia a Anápolis, e à GO-080, que dá acesso à Nerópolis. O titular da Delegacia Estadual do Meio Ambiente (Dema), Luziano Carvalho, alertou que não está sendo garantida a proteção máxima ao lago. “O mais importante deste lugar é o abastecimento de água da população. A água, portanto, precisa de ter qualidade absoluta”, alertou.

Em alguns pontos, a equipe da Dema localizou sacos de lixo e garrafas pet. Indícios de pesca clandestina foram constatados. Luziano Carvalho reforçou que o lago do João Leite não pode ser confundido com espaço recreativo ou área de lazer. “Tudo aqui gera algum impacto”, reiterou.

Entre as preocupações da Dema estão a instalação de uma cerca de proteção em torno do lago e, também, a implantação de medidas preventivas de acidentes com veículos que transportam cargas perigosas – dada a proximidade de duas rodovias de grande movimento.

A Saneago, responsável pela obra, garantiu que está providenciando a cerca, em 74 quilômetros. De acordo com o diretor de Engenharia da Saneago, Mário João Barbosa, o órgão tem um plano de proteção para o lago, mas que “depende de outras instituições”.

“Por exemplo, um caminhão que venha de Itumbiara com carga perigosa e passe por um posto policial, ele deve ser acompanhado até passar pela zona de proteção do lago”, aponta. O lago formado pela Barragem do João Leite (que ocupará 1040 hectares) está operando, atualmente, com 60% do volume previsto e deve atingir sua capacidade máxima na próxima estação chuvosa.

Usos indevidos das águas do reservatório do Ribeirão João Leite já eram temidos. Em 2006, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Meia Ponte (Cobamp) – da qual faz parte a Bacia do João Leite –, recomendou a retirada da atividade do interior da lâmina d´água. “No entanto, vemos a falta de uma fiscalização rigorosa por parte dos órgãos, como a Semarh (Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos)”, afirmou ontem Marcos Correntino, membro do Cobamp.

Permitir outros usos da água do reservatório, comparou ele, “é como fazer isso na caixa d´água da casa da gente: pode poluir, vai ter ônus”, alertou ele que é especialista em hidrologia e servidor da Companhia de Pesquisa em Recursos Minerais (CPRM).

“O risco é real”, diz delegado

O plano de contenção das cargas perigosas oriundas de veículos que trafegam pela BR-060 e pela GO-080, nas proximidades da Barragem do Ribeirão João Leite, é defendido não apenas pela Delegacia Estadual do Meio Ambiente (Dema), mas também pelo perito da Secretaria Estadual do Meio Ambiente – órgão governamental –, Neri Caetano Barbosa.

“O lago já entrou em operação, já está abastecendo parte de Goiânia. Nesse caso, qualquer medida de contenção já deveria, também, estar implementada”, argumenta. “O risco é real, não está sendo apenas projetado”, completa Luziano Carvalho, delegado titular da Dema. Mário João Barbosa, diretor de Engenharia da Saneamento de Goiás (Saneago) garante que todas as providências necessárias, em relação à barragem, estão sendo tomadas.

Apesar dos problemas, os reflexos, com a inauguração da primeira etapa do Sistema João Leite, são positivos. Com o reservatório pronto, o lago vai soltando água para o leito do ribeirão e não é mais preciso captar água do Rio Meia Ponte para abastecer a região, como acontece na seca mais intensa. (P.D.)

Obra começou em 2001

A construção do Sistema João Leite teve negociação iniciada na década de 1980. Em 2001, a obra foi iniciada. A conclusão da barragem, que deveria levar 540 dias, atrasou por diversos motivos. A segunda etapa começou em dezembro de 2009, com construção de adutoras, elevatórias e uma estação de tratamento. Em 2011, o sistema terá condições de atender Goiânia, Aparecida, Trindade e Goianira.

Fonte: O Popular

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