Vinicius Jorge Sassine
Reduzir pela metade a quantidade de pessoas sem acesso à coleta de esgoto no Brasil, como preveem os objetivos de desenvolvimento do milênio (ODM) da Organização das Nações Unidas (ONU) para 2015, é uma utopia em Goiás. O fracasso do Estado no cumprimento dessa meta só não é mais vexatório do que o desempenho do Amapá, como revela uma pesquisa inédita do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Os dois Estados foram os que obtiveram os piores desempenhos na ampliação da cobertura da coleta de esgoto entre 1992 e 2008, período analisado pelo estudo do Ipea.
No Amapá, em 16 anos, a quantidade de brasileiros sem esgoto sofreu uma redução de 2%. Em Goiás, a redução foi de 4%, bem distante da meta de 50% preconizada pela ONU. “A Região Centro-Oeste tem o nível de coleta de esgoto mais baixo dentre as regiões brasileiras, mesmo incluindo o Distrito Federal, que tem um índice de coleta de 98%”, disse ao POPULAR a coordenadora de Estudos Setoriais Urbanos do Ipea, Maria da Piedade Morais, responsável pela pesquisa que analisou o desempenho de cada Estado no cumprimento das metas da ONU. O Brasil enfrenta dificuldades para reduzir pela metade a população sem acesso à coleta de esgoto, e o a região central do País tem uma participação decisiva para isso.
Avanço nulo
Maria da Piedade detalhou à reportagem o relatório estadual da pesquisa referente a Goiás. Os avanços na coleta e tratamento de esgoto foram quase nulos, enquanto em todo o País a média de redução dos domicílios sem esgoto chegou a 40%. “Os impactos são sentidos principalmente na saúde pública, com ampliação das doenças de veiculação hídrica”, ressalta a pesquisadora.
A coordenadora do Ipea chama a atenção para os índices de mortalidade infantil, em especial de crianças que não chegam a completar um ano de idade. O índice de mortalidade de meninos e meninas nessa faixa etária em Goiás foi de 17,4 a cada mil nascidos vivos em 2006, um índice superior à média do Centro-Oeste, de todos os Estados da Região Sul, do Espírito Santo, do Rio de Janeiro e de São Paulo, explica Maria da Piedade.
Água tratada
O relatório que analisou o andamento dos objetivos estabelecidos pela ONU para o Brasil apontou um avanço do abastecimento de água tratada em Goiás, numa proporção superior à média brasileira. A redução de pessoas sem acesso à rede canalizada de água chegou a 63%, superior, portanto, às próprias metas da ONU. “Pode ser que a empresa de saneamento em Goiás (Saneago) tenha priorizado os serviços de água em detrimento do esgoto”, afirma Maria da Piedade.
As constatações do Ipea, tanto para água quanto para esgoto, não detalham realidades regionais que, vistas de perto, dão a nítida impressão de congelamento do tempo. É assim com a segunda maior cidade do Estado, Aparecida de Goiânia, colada na capital. Metade dos moradores da cidade não tem água canalizada e tratada. Apenas 16% das casas contam com coleta de esgoto. Tratamento de efluentes, em Aparecida de Goiânia, é um artigo de luxo.
Fonte: Jornal O Popular