Uma boa notícia: ao participar há poucos dias de uma discussão sobre saneamento em Recife, o autor destas linhas ouviu do representante da empresa local de água que o BNDES começou a financiar (afinal!) projetos de conservação e recuperação de redes de distribuição de águas. É muito importante, porque se sabe que as grandes cidades brasileiras, na média, estão perdendo mais de 40% da água que sai das estações de tratamento, por causa de vazamentos, furos e até furtos. Mas não havia até aqui fontes de financiamento para projetos de reparação das redes e conservação de água, nos quais o ganho de um litro de água custa de 5 a 7 vezes menos do que produzir um litro “novo” com a implantação de novas barragens, adutoras e estações de tratamento. É uma notícia muito importante inclusive para Goiânia, que também perde parte importante da água que é distribuída (fala-se em cerca de 30%). E para os quase 10% de brasileiros que ainda não dispõem de redes de água em suas casas.
Por outros ângulos também é notícia importante. Porque água, também aqui, é um bem cada vez mais escasso. E o será ainda mais. Estudo recente do prof. Enéas Salati, especialista em recursos hídricos na Fundação Brasileira de Desenvolvimento Sustentável, afirma que, por causa de mudanças climáticas, até 2100 o volume de água do Rio Tocantins poderá cair 50% comparado com a média 1960/1990. No São Francisco, a perda poderá ser de até dois terços do fluxo. Na Amazônia, de 30 a 40%. São informações na mesma direção de pesquisa do National Center for Atmospheric Research, dos Estados Unidos, que estudou 925 rios no mundo, inclusive o Amazonas, o Amarelo (China), o Níger (África), o Colorado (onde os agricultores norte-americanos desviam cada vez mais água). E mostra que o Rio São Francisco já perdeu um terço de seu volume tradicional. O Amazonas também perdeu 3,1%. Já a Agência Nacional de Águas adverte que 1896 de 2915 municípios por ela avaliados sofrerão em seis anos com falta de água.
Em Goiânia, segundo a Saneago, 97% da população urbana dispõem de água tratada em suas residências. Mas em Aparecida, só metade dos 530 mil habitantes tem suas casas ligadas à rede de abastecimento – e só 15% dispõem de rede coletora de esgotos (O POPULAR, 21/2). No mundo, o drama da água continua. Segundo o último levantamento da ONU, são 884 milhões de pessoas sem água tratada em casa e 2,6 bilhões sem rede de esgotos. E como nem todos os carentes dispõem de fossa séptica, diz a ONU que nada menos de 17% dos habitantes do Planeta (mais de um bilhão de pessoas) defecam ao ar livre. Quase inacreditável.
Não há esperança de que as carências brasileiras sejam supridas em espaço curto de tempo. Só 20% dos recursos contratados para a área de saneamento no PAC foram de fato investidos (O Globo, 4/3). Outro levantamento (O Estado de S. Paulo, 3/3) diz que dos R$ 40 bilhões para saneamento previstos no PAC para 2007/10, 23% ficaram no papel e em 44% foram executados menos de 20% do total. E serão necessários R$ 270 bilhões para universalizar as redes de abastecimento de água e coleta de esgotos no País. O próprio Ministério das Cidades já admitiu que, no ritmo de hoje, precisaremos de 66 anos para chegar aí.
Nesse quadro, as consequências são muito graves. Segundo o Instituto Trata Brasil (26/11/9), a cada dia 5,4 bilhões de litros de esgotos são despejados sem tratamento nos cursos de água e/ou no mar. Num estudo que abrangeu 79 cidades, com 70 milhões de habitantes, verificou-se que apenas 36% dos esgotos coletados eram tratados. Isso nos coloca, segundo a ONU, em sétimo lugar entre 14 países com os mais baixos índices de tratamento. E só temos metade da população total com redes coletoras; quase 100 milhões de pessoas são carentes (incluídas aí as que só têm fossas sépticas). Mesmo na Região Metropolitana de São Paulo, onde o déficit é menor, um milhão de pessoas não têm suas casas ligadas às redes coletoras de esgotos. Mas 74% dos esgotos coletados são tratados.
Precisamos correr contra o tempo, aqui e em todos os lugares. No interior de Goiás mesmo, a situação é precária em grande parte dos municípios. E do saneamento dependem a saúde, a produtividade, a qualidade de vida das pessoas. Basta lembrar que 80% das internações de crianças na rede pública de saúde brasileira se devem a doenças veiculadas pela água, assim como 80% das consultas pediátricas. E no mundo morrem a cada ano 1,5 milhão de crianças por doenças diarréicas decorrentes da má qualidade da água. É inaceitável.
Washington Novaes é jornalista
Fonte: Jornal O Popular
O Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Urbanas no Estado de Goiás (STIUEG) teve seu início no ano de 1949, com a criação da Associação dos Funcionários da CELG. O segundo passo importante dessa história foi dado com a extensão de base para a Associação dos Trabalhadores nas Indústrias Urbanas no Estado de Goiás...
Todos os direitos reservados. Desenvolvido por Supera Web X