Érika Lettry
A expectativa que o governo estadual e segmentos organizados tinham de que o projeto de venda das ações da Celg para a Eletrobras fosse votado ainda ontem foi frustrada pelo deputado marconista Daniel Goulart (PSDB), que pediu vistas ao projeto durante reunião da Comissão Mista e logo depois deixou a Assembleia, sem devolvê-lo.
Ao pegar o projeto, o tucano disse aos deputados que o devolveria em poucos minutos e que apenas acrescentaria duas emendas. Mais cedo, durante a audiência pública realizada na Casa para discutir a matéria, ele também afirmou que era favorável que cessassem as audiências, já que as dúvidas dos deputados já haviam sido sanadas.
A postura do deputado de levar o projeto causou descontentamento entre colegas. Álvaro Guimarães (PR) e Betinha Tejota (PSB) reclamaram que ele não havia mantido a palavra. Welington Valim (PT do B) e o líder do Governo, Evandro Magal (PP), fizeram apelo para que ele entregasse a matéria para a votação.
Essa não foi a única polêmica que Daniel se envolveu ontem. Na audiência pública, ele causou desconforto ao discordar de Álvaro, que afirmara que o governador Alcides Rodrigues (PP) não tinha culpa da situação da Celg.
“Esse governo tem alta responsabilidade por não cumprir obrigações setoriais, por isso não houve reajustes (tarifários). O secretário (Jorcelino Braga) deveria estar aqui. Para ligar para o Enio Branco e pedir para ele ir à
O petista pediu vistas do projeto e o devolveu com um voto em separado acrescentando texto que, afirmou, irá salvaguardar os trabalhadores da Celg. “Eu quero votar hoje. Posso até ser derrotado na minha emenda, mas temos de parar de hipocrisia. Tem um grupo aqui na Assembleia que quer enterrar essa negociação. É um desrespeito ao povo de Goiás e põe em risco a negociação”, discursou.
Após reunião ontem com técnicos da Celg em que participaram Renafé não custa tanto”, disse, citando denúncia de extorsão que envolve a filha do titular da Fazenda. Ele teve a fala interrompida.
Relatório
O relatório do projeto foi devolvido Jardel por volta das 19h30. Ao entregá-lo, ele garantiu estar atendendo a pedido de todos os colegas. Jardel entregou o documento com uma emenda que exclui o artigo que prevê a perda da gestão da Celg pelo Estado caso o governo não cumpra as obrigações pactuadas com a Eletrobras.
A emenda é a mesma que Daniel prometeu inserir no projeto, acrescentando apenas outro artigo, pedindo que as informações sobre as negociações entre Celg e Eletrobras fossem enviadas ao Legislativo. Outros dois deputados fizeram emendas ao texto: Cláudio Meirelles (PR) e Mauro Rubem (PT).quatro deputados, ficou definido que Magal apresentaria emenda também no artigo segundo – o mesmo que Jardel quer suprimir –, explicitando que a perda de ações para a Eletrobras ocorrerá na proporção do inadiplemento, “devendo o valor equivalente às referidas ações, caso seja executada a garantia, ser depositado na conta corrente do Fundo de Aporte diretamente do referido acionista”. Mas a alteração acabou não sendo apresentada depois que Daniel carregou o projeto.
O deputado Misael Oliveira (PDT), pediu um minuto de silêncio “pela morte da Celg”. “Se não votarem até o dia 30, acabou. Só lamento que essa legislatura vai ficar marcada por isso”, disse.
O deputado Paulo Cézar Martins (PMDB) também pediu vistas do projeto, mas o devolveu em seguida, sem nenhuma observação. Mais cedo, a líder peemedebista, Mara Naves, havia defendido a votação rápida e disse que a bancada havia entrado em consenso para permitir que a votação ocorresse ontem.
Por causa do pedido de vistas de Daniel, Magal tentou marcar sessões extraordinárias para segunda para tentar agilizar o processo, já que Daniel tem 48 horas para devolver o projeto. Mas como segunda haverá sessão solene, o presidente Helder Valin (PSDB) explicou que ele deveria requerer as extras na terça.
Prejuízo diário é de 3 milhões, diz presidente
Erica Lettry
Na segunda audiência pública realizada na Assembleia Legislativa para discutir o projeto da Celg ontem, quase todos os segmentos convidados pediram que o autor do requerimento, Jardel Sebba (PSDB), devolvesse o projeto para que os deputados pudessem votar com agilidade.
O presidente da Celg, Carlos Silva (PP), destacou que a companhia “perde cerca de R$ 3 milhões ao dia” por conta da falta de reajuste tarifário e de juros e encargos decorrentes da inadimplência. Segundo o presidente da Celg, atualmente são pagos de 18% a 25% em juros e a negociação da Eletrobras isso seria reduzido para 7%.
A informação foi referendada pelo presidente do Conselho Regional de Administração, Devanir Ferreira, que lembrou ainda que o Estado pode perder a concessão em 2015 caso o problema financeiro da Celg não seja resolvido. “Todo esforço é pequeno para salvar essa concessão, que tem valor virtual”, defendeu.
O vice-presidente da Federação da Indústria de Goiás, Pedro Alves de Oliveira, destacou que indústrias instaladas em Goiás estão com dificuldades de iniciarem seus trabalhos em decorrência da falta de energia. “As perspectivas nossas são grandes, mas o problema da energia tem sido um fator inibidor de investimentos”.
Também participaram da audiência o assessor da diretoria da Eletrobrás, Jack Steiner, e o presidente da OAB, Henrique Tibúrcio. (E.L.)
Fonte: O Popular