Núbia Lôbo
O presidente da Eletrobras, José Muniz Lopes, disse ontem que não há interesse financeiro da estatal federal no acordo em negociação com o governo de Goiás para resolver o problema da dívida da Celg. Muniz afirmou que a Eletrobras não entraria no negócio se não fosse para ficar com o controle total da Celg e alertou que a aprovação do projeto que tramita na Assembleia é urgente para garantir os recursos federais.
“Quem vai mandar na Celg é a Eletrobras”, declarou Muniz, após reunião com um grupo de deputados goianos que foram ontem cedo a Brasília em busca de mais informações sobre a negociação. “Nós vamos indicar o vice-presidente executivo e a diretoria toda. Agora, mandar não significa fazer o que quer. Nós temos de prestar contas aos acionistas (o Estado será o sócio majoritário na Celg)”, acrescenta Muniz.
A audiência com o presidente da Eletrobras serviu para os parlamentares como um banho de realidade sobre a situação desfavorável da Celg na negociação. Questionado se o Estado passaria a ser uma ‘Rainha da Inglaterra’ na Celg – sem poder de decisão –, como afirmado pelos deputados, o presidente amenizou o tom. “Decisão (o Estado), tem. Mas é preciso que haja um entendimento. No dia a dia... (quem manda é a Eletrobras). Mas se o presidente não assinar (os documentos), não tem decisão”, explicou Muniz.
Diante da reação de surpresa dos deputados, Muniz lembrou que “a situação não é das melhores”. Segundo ele, melhor seria que não houvesse a crise. Muniz apontou dois argumentos para convencer a Assembleia de que a aprovação do projeto de venda de 41,08% das ações da Celg deve ser realizada até o dia 30, data da reunião do conselho da estatal federal. O primeiro é de que, “a cada dia que passa, a Celg sangra mais”.
O outro é a garantia dos recursos da Reserva Global de Reversão (RGR), fundo do setor elétrico de onde a Eletrobras vai tirar cerca de R$ 4,6 bilhões para empregar na negociação. Muniz explica que sempre haverá risco do Estado perder os recursos que atualmente estão garantidos porque há uma demanda muito grande por investimentos. “Estava lutando há tanto tempo para pegar esse dinheiro e botar na Usina de Angra 3 e não consegui. O presidente Lula está dando um prêmio (ao Estado)”, disse.
Deputados levantaram a hipótese de haver reunião extraordinária do conselho, caso a Assembleia não aprove a autorização até dia 30, mas o presidente alertou para a dificuldade de “achar” agenda.
O secretário da Fazenda, Jorcelino Braga, negou que a Eletrobras vá mandar na Celg. Segundo ele, o projeto deixa claro que o Estado terá maioria (58%) das ações e que a gestão será compartilhada. “Não existe isso de Eletrobras mandar. Se ele (Muniz) falou, usou expressão errada. Todos os atos terão de ser assinados pelo presidente, indicado pelo Estado”, disse.
Deputados afirmam que projeto do governo pode ser votado ainda hoje
Núbia Lôbo
Autor da ideia de levar uma comissão de deputados até a Eletrobras, o presidente da Assembleia Helder Valin (PSDB) saiu do encontro de ontem com a convicção de que a venda de 41,08% das ações da Celg para a estatal federal é vantajoso para Goiás. “Entendo que, após a audiência pública que será realizada amanhã (hoje, às 16h), já podemos entrar no procedimento de tramitação na Assembleia”, disse Valin.
A ideia é que a primeira votação aconteça ainda hoje logo após a audiência pública. A segunda votação aconteceria na próxima terça, dia 30, quando o Conselho da Eletrobras se reúne e poderá aprovar definitivamente o acordo.
O relator da matéria, Jardel Sebba (PSDB), disse que resta tirar algumas dúvidas para definir se apoia a antecipação do processo na Casa. “Estranho o fato do sócio minoritário (Eletrobras) ter o total controle da empresa. Mas se todos quiserem votar o projeto amanhã (hoje), não vou me opor”, garantiu Jardel.
Os deputados Evandro Magal (PP), Betinha Tejota (PSB), Isaura lemos (PDT), José Nelto, Paulo Cézar Martins e Thiago Peixoto (todos do PMDB) e ainda Cláudio Meirelles (PR) acompanharam o presidente da Casa na Eletrobras. Apenas o último ainda falava em obstruir o projeto com vistas ou alguma ação judicial.
José Nelto disse que tentaria convencer a bancada peemedebista a desobstruir a votação e liberar o acordo com a Eletrobras. “Será uma intervenção branca (referindo-se ao controle total da Eletrobras), mas o governo estadual já provou que não tem competência para gerir a Celg”, destacou o peemedebista.
O projeto deve receber emendas para esclarecer as garantias da Celg à Eletrobras e o destino da Celg Telecom. “Não queremos modificar nem suprimir nada. Vamos apenas aprimorar o texto”, explicou Valin, com a anuência do presidente da Eletrobras, José Muniz Lopes.
Fonte: O Popular