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“Celg precisa ficar sob o controle do Estado”

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15/03/2010
Alexandre Bittencourt
Editor de Política & Justiça
Pré-candidato ao governo estadual pelo PSol e diretor-executivo do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Urbanas no Estado de Goiás (Stiueg), Washington Fraga ressalta que o projeto de lei, em tramitação na Assembleia Legislativa,  autorizando repasse de  41,08% das ações da Celg para Eletrobrás representa a entrega da companhia. O sindicalista reclama da falta de transparência e da ausência de debate sobre a proposta, que abre mão do que resta do patrimônio dos goianos, como já ocorreu com outras estatais, como Banco do Estado de Goiás (BEG), Caixego e Usina de Cachoeira Dourada.

Diário da Manhã – Como o senhor avalia o projeto referente ao acordo entre a Celg e a Eletrobrás?
Washington Fraga – Estranho o fato desse projeto estar na Assembleia Legislativa, sem um amplo debate com a sociedade. Não entendo, pois se trata da venda de um patrimônio público. Historicamente, o Estado tem perdido empresas importantíssimas, como Caixego, BEG e a Usina de Cachoeira Dourada. Exemplos extremamente ruins para a população goiana. Temos que pensar na importância da Celg, estratégica do ponto de vista social e econômico. A Celg tem que ficar sobre o controle do Estado de Goiás.
 
DM – O senhor acredita que, na prática, esse projeto vai gerar a federalização da companhia?

Washington – É mais do que claro que vai gerar a federalização. Esse projeto quer tirar a autonomia, o poder do Estado de Goiás e entregar a Celg para o governo federal. Há um discurso velho, de falar que vai se criar uma blindagem na Celg, o que não é verdade. A Celg vai continuar sendo dirigida por políticos. Existe mais corrupção no governo federal do que em qualquer outra instância. Não é a chancela de ser uma empresa federal que vai evitar a corrupção. Além disso, o governador Alcides Rodrigues (PP) esparramou nos quatro cantos do Estado de Goiás que seria amplamente debatida essa negociação com a Eletrobrás. Não é o que está acontecendo. 

DM – Mas o governo diz que tem pressa porque, senão, a Celg quebra.
Washington – Não é verdade. Tem mais de 25 anos que a Celg vem sofrendo com essas irresponsabilidades administrativas. Não vai ser um projeto de lei que vai resolver todos os problemas na companhia. O fato é que a Eletrobrás esta aproveitando a fragilidade que a Celg atravessa, fazendo uma proposta muito aquém do valor patrimonial que a Celg representa, tanto economicamente, quanto socialmente. Nós podemos até admitir que seja feita uma negociação com a Eletrobrás, mas não com essas condições impostas.  

DM – Existe outra solução para a Celg?
Washington – Temos que chamar a população do Estado e dizer que nós somos capazes de recuperar a Celg, sem intervenção federal. A Celg é uma empresa que distribui energia para 98% da população de um Estado em franco desenvolvimento. Só na Região Metropolitana de Goiânia surgem mais de 100 mil consumidores por ano. É a companhia energética de um Estado em franco desenvolvimento na agropecuária, com grande capacidade de industrialização. É um mercado excelente, basta que se tenha uma gestão fiscalizada e acabe de vez com as interferências e ingerências políticas. Não só no caso da Celg, mas em todas as empresas do Estado. Se aceitarmos isso, amanhã vai ser a Saneago.

 
DM – Os problemas financeiros da Celg são reais. Como resolver sem a Eletrobrás?

Washington – A Celg tem ativos a receber, como os da Codemig e os relativos ao patrimônio que perdeu em Tocantins, além do dinheiro que perdeu com a venda de Cachoeira Dourada, que não entrou nos cofres da Celg. Além disso, os políticos goianos, que estão falando que o Lula e o Henrique Meirelles querem ajudar Goiás, deveriam ter uma ação política de buscar as pendências de recebimentos desses passivos. Devíamos ter a ajuda deles. Estranho que depois de cinco anos de governo o governador Alcides, no último ano, faltando seis meses de governo, se apressa em uma negociação, com tanta rapidez, com um discurso que a Celg vai quebrar amanhã. Nós entendemos que nesse ano eleitoral tínhamos as condições necessárias para buscar uma melhor negociação com o governo federal.


 DM – Por que a Eletrobrás tem tanto interesse na Celg? 

Washington – Hoje, no Brasil, nós temos a segunda tarifa de energia mais cara do mundo. Com a privatização do setor energético no Brasil, 70% do setor elétrico ficou nas mãos da iniciativa privada. Com isso a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), dominada pela iniciativa privada, permitiu que as tarifas disparassem, com o interesse de atingir maior lucro. Como esse mercado está sendo controlado pela iniciativa privada, o governo Lula percebeu que tem que equilibrar essa situação, com a contrapartida das empresas públicas. O governo Lula quer recriar a Eletrobrás nos mesmos moldes que a Petrobras. A Celg, então, é estratégica para o fortalecimento da Eletrobras. Querem pegar uma empresa em uma região como Goiás, no coração do Brasil, em pleno desenvolvimento, uma região extremamente promissora do ponto de vista de mercado energético. O interesse do governo federal é no sentido de construir uma empresa dominando o mercado, uma grande estatal como a Petrobras. Por isso, eles querem a Celg.

Fonte: Jornal Diário da Manhã

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