Algumas das maiores autoridades ambientais do planeta estarão na capital paranaense de 6 a 9 de janeiro para a segunda Reunião de Curitiba sobre Cidades e Biodiversidade, organizada pelas Nações Unidas. Entre as autoridades, o argelino Ahmed Djoghlaf, secretário-executivo da Convenção sobre Diversidade Biológica da ONU, o biólogo e documentarista canadense Jean Lemire e a sul-africana Kobie Brand, diretora do Conselho Internacional para as Iniciativas Ambientais Locais.
O evento é preparatório para a Conferência das Partes sobre Diversidade Biológica (COP 10) da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nagoya, no Japão, em outubro de 2010. As discussões e fóruns servirão de base para a definição de um Plano de Ação sobre a Biodiversidade dentro do Contexto Urbano.
Será o primeiro grande encontro internacional sobre meio ambiente após o encerramento da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP), em Copenhague, na Dinamarca. `Vamos avançar nas discussões sobre biodiversidade urbana e cidades sustentáveis, tema que será levado à próxima COP, em Nagoya, no Japão`, explica o prefeito de Curitiba, Beto Richa, que abrirá a reunião. O encontro na capital também marcará o início das comemorações do Ano Internacional da Biodiversidade.
O Programa Biota-FAPESP é representado pelo professor Roberto Gomes de Sousa Berlinck, do Instituto de Química de São Carlos, da Universidade de São Paulo.
“A natureza é uma rede extremamente intrincada que precisa ser mantida para a vida existir. Porém, essa harmonia tem sido cada vez mais ameaçada”, disse Berlinck sobre a importância da coexistência das espécies.
De acordo com levantamentos da Convenção sobre a Diversidade Biológica (CBD), órgão da ONU que trata deste tema, a taxa de perda de espécies chega a 100 vezes à da extinção natural e vem crescendo exponencialmente.
Pensando em pelo menos diminuir esse ritmo, em 2002 a Conferência das Partes (COP) da CBD propôs uma série de metas a serem alcançadas até 2010 e obteve o comprometimento de vários países.
Nos moldes da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP15), que em dezembro, em Copenhague, na Dinamarca, fez um balanço dos compromissos assumidos no Protocolo de Quioto, a COP da biodiversidade tem um encontro marcado para outubro deste ano, na cidade japonesa de Nagoya, a fim de avaliar os resultados das ações assumidas em 2002 para preservar a biodiversidade.
Segundo Berlinck `a morte de recifes de corais no mundo todo e o desaparecimento das abelhas na América do Norte são apenas duas das consequências da destruição de áreas nativas”. Carlos Alfredo Joly, coordenador geral do Biota-FAPESP e professor do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas, alerta que é preciso estipular metas mais confiáveis e usar indicadores mais precisos”, disse, ressaltando que considera os indicadores escolhidos em 2002 um dos pontos fracos do acordo.
Joly também chama a atenção para a importância das pesquisas de levantamento de dados como as feitas no Biota-FAPESP, que visam à caracterização, conservação e ao uso sustentável da biodiversidade. “Como saber quantas espécies desapareceram se ainda estamos fazendo os inventários?”, disse.
Em dez anos, os pesquisadores do Biota-FAPESP, que tem como foco o Estado de São Paulo, catalogaram cerca de 2 mil novas espécies. Mas, para Joly, é fundamental que programas como esse sejam implantados em outras regiões do Brasil.
“Não sabemos quase nada sobre o Brasil, a última lista oficial da flora brasileira é de 1908. Há somente levantamentos regionais”, disse. Joly destaca a necessidade de que sejam conduzidos inventários como o das plantas que produzem flores (fanerógamas) na flora paulista, que conta com o apoio da FAPESP e teve o seu sexto volume (lançado recentemente).
Justamente por desconhecer os números exatos, Joly calcula que as estimativas da CBD sobre o desaparecimento de espécies estejam subestimadas. Atualmente, o órgão faz projeções a partir do desaparecimento de hábitats. Para cada unidade de área degradada, estima-se um determinado decréscimo das espécies que nela habitavam. No entanto, sem um levantamento taxonômico adequado não há como saber com exatidão o tamanho das perdas da biodiversidade. Muitas espécies desaparecem sem ao menos serem conhecidas.
A sobrevivência das espécies também passa pela diversidade genética, a qual deve ser considerada nos projetos de conservação, segundo os coordenadores do Biota-FAPESP. Indivíduos de uma mesma espécie que possuem pouca variação genética podem ser suscetíveis às mesmas doenças e acabar rapidamente dizimados.
“O mesmo ocorre quando vamos fazer um reflorestamento. Se não considerarmos as diversidades genéticas e não reintroduzirmos todas as espécies envolvidas, a floresta pode morrer depois de uma década por doença ou mesmo pela ausência de um animal polinizador”, explicou Joly.
Para trabalhar também com a diversidade dos genes, o Programa Biota-FAPESP deverá aumentar o uso de ferramentas de biologia molecular. “Os felinos selvagens que hoje habitam canaviais e fazendas são geneticamente iguais aos seus ancestrais que viviam nas matas nativas de São Paulo?”, questiona Joly. Segundo ele, responder a essa pergunta ajudará a preservar esses animais, o que ressalta a importância da biologia molecular para a biodiversidade.
Berlinck aponta que desconhecer a natureza pode custar caro. “O deslizamento de encostas neste início de ano é uma consequência do desconhecimento do que pode e do que não pode ser feito com a natureza”, disse.
Segundo ele, preservar as diversas espécies é uma forma de manter e de garantir qualidade de vida também para as gerações futuras. “No entanto, é preciso que populações e governos conheçam o decréscimo crônico da biodiversidade e tomem iniciativas”, disse. É isso que a ONU e os cientistas esperam de 2010.
Fonte: Água Online